A Anáfora é uma figura de linguagem que consiste na repetição de uma ou mais palavras no início de um verso ou em um enunciado com fins expressivos ou estéticos. Por exemplo:
Assim pensando o tempo passa e a gente vai ficando pra trás
Esperando, esperando, esperando
Esperando o sol
Esperando o trem
Esperando o aumento
Desde o ano passado para o mês que vemChico Buarque, “Pedro pedreiro”.
As anáforas são frequentemente utilizadas no gênero lírico, pois conferem-lhes musicalidade e ritmo aos poemas. No entanto, também podem aparecer em textos em prosa, onde se reiteram diferentes frases ou sintagmas com o objetivo de enfatizar algo ou gerar um efeito mais potente com a linguagem. Assim, é possível encontrá-las em discursos políticos e publicitários. Por exemplo: Leia muito, leia sempre, leia todos os livros que você puder.
Atenção: Não devemos confundir a anáfora como recurso literário com a anáfora como elemento de coesão textual. Uma anáfora em gramática consiste na retomada de um elemento anterior no enunciado via outra expressão, evitando a repetição do termo referido. Por exemplo: Geovana e Flávia são muito estudiosas. Elas têm ótimas notas. Neste caso, o pronome “elas”retoma os elementos Geovana e Flávia.
A Anáfora como recurso literário se classifica dentro das figuras retóricas de repetição, ou seja, aquelas que reiteram algum elemento do texto escrito.
- Veja também: Função poética
Exemplos de anáfora
- Lutaremos pelo que fomos. Lutaremos pelo que seremos.
- Quando a vida te sorri e quando a vida te evita.
- Saí pela avenida. Saí eu, e saíram meus sonhos.
- Pensando, sempre. Pensando nela.
- Aqui tudo se sabe, aqui nada é secreto.
- O som da alma, o som do mar.
- A calma que antecede a tempestade, a calma que está por chegar.
- Irão eles primeiro. Irão depois de sua procura.
- O inverno esconde um segredo; o inverno tem noites que podem deslumbrar.
- Soube admirá-lo, soube tê-lo, soube sentir saudades.
- Posso explicar, posso explicar tudo e mesmo assim não entenderia.
- Verde que te quero verde.
- Vento verde. Ramos verdes.
- Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense.
Carlos Drummond de Andrade, fragmento de “E agora, José?” - Tá na moda, tá na mão, tá na C&A.
Texto publicitário da C&A
- Este, aliás, acompanhou a narração da mulher em silêncio com os olhos no teto; naturalmente não queria incorrer na pecha de fraco, mas a fraqueza, se o era, começou nos gestos;
ele ergueu-se, ele sentou-se, ele acendeu um charuto, ele retificou a posição de um vaso…
Machado de Assis, fragmento de “Memorial de Aires” - É o pau, é a pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um caco de vidro, é a vida, é o sol
É a noite, é a morte, é um laço, é o anzol
É peroba no campo, é o nó da madeira
Tom Jobim, trecho da música “Águas de março” - É preciso casar João,
é preciso suportar, Antônio,
é preciso odiar Melquíades
é preciso substituir nós todos.
É preciso salvar o país,
é preciso crer em Deus,
é preciso pagar as dívidas,
é preciso comprar um rádio,
é preciso esquecer fulana.
Carlos Drummond de Andrade, “Poema da necessidade” - Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores
Gonçalves Dias, fragmento do poema “Canção do exílio” - Agro é tech, Agro é pop, Agro é tudo
Texto publicitário da Rede TV Globo. - Como jamais conhecer o menino? (…) O que conheço dele é a sua situação: o menino é aquele em quem acabaram de nascer os primeiros dentes e é o mesmo que será médico ou carpinteiro. Enquanto isso — lá está ele sentado no chão (…).
Clarice Lispector, fragmento de “Menino a bico de pena” - Vi uma estrela tão alta,
Vi uma estrela tão fria!
Vi uma estrela luzindo
Na minha vida vazia.
Era uma estrela tão alta!
Era uma estrela tão fria!
Era uma estrela sozinha
Luzindo no fim do dia.
Manuel Bandeira, fragmento do poema “A estrela” - Nada vai me fazer desistir do amor
Nada vai me fazer desistir de voltar
Todo dia pro seu calor
Nada vai me levar do amor
Nada vai me fazer desistir do amor…
Nada vai me fazer desistir de voltar todo dia pro seu calor…
Nada vai me levar do amor…
Jorge Vercillo, trecho da música “Que nem maré” - Sem sacar que o espinho é seco.
Sem sacar que seco é ser sol.
Sem sacar que algum espinho seco secará.
Se acabar não acostumando.
Se acabar parado calado.
Se acabar baixinho chorando.
Se acabar meio abandonado.
Marisa Monte, trecho da música “Segue seco” - Acorda, Maria, é dia
de matar formiga
de matar cascavel
de matar estrangeiro
de matar irmão
de matar impulso
de se matar. - Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega o destino pra lá
Roda mundo, roda-gigante
Rodamoinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração.
Chico Buarque, trecho da música “Roda viva” - Fez-se silêncio ao tocar nas flores fúnebres sobre o cachão.
Fez-se silêncio ao cair em chamas reluzentes a estrela.
Fez-se silêncio ao subir queimando no ar o balão.
Aquela ausência era tão profunda e dolorosa,
não se ouvia um som.
Joana pedia que lhe contassem algo sobre sua mãe,
Fez-se silêncio.
O silêncio já era tanto que a ensurdecia.
Gritou, gritou, gritou
De desespero Joana.
Fez-se (apenas) silêncio.
Letícia Gomes Montenegro, fragmento do texto “Modos de sentir o silêncio” - Quando não tinha nada, eu quis
Quando tudo era ausência, esperei
Quando tive frio, tremi
Quando tive coragem, liguei
Chico César, trecho da música “À primeira vista”
Atenção: Não devemos confundir a anáfora como a figura de linguagem paralelismo. Na anáfora se repetem uma ou várias palavras no início de frases contíguas, enquanto no paralelismo se repetem determinadas estruturas sintáticas, mas não necessariamente as palavras. Por exemplo: Ano Novo, vida nova.
Outras figuras de linguagem
As figuras de linguagem ou de estilo são formas não convencionais de usar as palavras para torná-las mais belas, expressivas, com mais força e cor.
Metáfora | É a identificação de um objeto real com um objeto imaginário, com o qual ele mantém uma relação de similaridade. | Este lugar é um paraíso. |
Comparação | Estabelece uma relação explícita de similaridade entre dois elementos, com base em alguma característica comum. | Ficou como uma fera. |
Hipérbole | É um exagero com o objetivo de intensificar, degradar ou ampliar. | Estou morrendo de saudades. |
Personificação | É a atribuição de qualidades humanas a seres ou animais inanimados. | As árvores choram. |
Aliteração | É a repetição de fonemas vocálicos ou consonantais em palavras próximas. | Minha mãe me mima. |
Anáfora | É a repetição de uma ou mais palavras no início de duas ou mais frases consecutivas. | Aqui estamos, aqui permaneceremos. |
Sinestesia | É a atribuição de sensações físicas a sentimentos ou a conceitos aos quais tal atribuição não corresponderia. | Estávamos o doce som da flauta. |
Metonímia | É o uso de uma palavra por outra em função de estarem ligadas por uma relação. | Este ano leremos Camões. |
Hipérbato | Altera a ordem lógica dos elementos de uma frase. | Estrelado o céu estava. |
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