20 Exemplos de
Assimilação e acomodação

O psicólogo suíço Jean Piaget (1896–1980) desenvolveu a teoria conhecida como “teoria do desenvolvimento cognitivo”, que é um modelo sobre como se forma a inteligência nos seres humanos. Neste modelo, chamado construtivista, existem dois conceitos fundamentais para a aquisição do conhecimento: a assimilação e a acomodação.

  • Assimilação. É a integração de informação nova que se adquire através da experiência e se interpreta com os esquemas mentais com os que conta uma pessoa. Através da assimilação, incorporam-se elementos externos a estruturas preexistentes, ou seja, que se responde a um evento desconhecido ajudando a experiências prévias como referência, a fim de lhe dar um sentido. Por exemplo: uma criança vê uma zebra e a nomeia “cavalo”, porque a associa com um animal conhecido com o qual a zebra compartilha características.
  • Acomodação. É a modificação dos esquemas preexistentes a partir de uma informação ou vivência recém-adquirida. É quando os novos elementos fazem com que os esquemas anteriores se reorganizem porque não são úteis para incorporá-los. Deste modo, é alcançado um novo equilíbrio, que ultrapassa o anterior. Por exemplo: a criança recebe informações sobre as diferenças entre as zebras e os cavalos, alterando assim as suas estruturas anteriores e reconhecendo que existem outros animais grandes e de quatro patas que não são cavalos.

O resultado dos processos de assimilação e de adaptação é a adaptação ao meio, e essa adaptação é a inteligência. Segundo a teoria de Piaget, as pessoas sempre aprendem mediante estes mecanismos, que se completam com o crescimento e constituem a base para a construção da inteligência. Portanto, a aprendizagem é um processo ativo e dinâmico que implica mudar constantemente para alcançar um equilíbrio.

Como funciona o processo de adaptação?

A teoria do desenvolvimento cognitivo afirma que assim como a realidade sempre muda, também a inteligência muda. Apresenta estruturas ou esquemas (sistemas organizados de ideias ou ações) através dos quais as pessoas interagem com o ambiente.

A ideia de interação é importante porque significa que tanto as pessoas como o mundo são ativos no processo de aprendizagem. Os esquemas são construídos a partir das experiências. Por exemplo: um bebê nasce com um esquema sensomotor, ou seja, que se relaciona com o mundo por meio de seus sentidos e do movimento. No início, suas ações se relacionam com os reflexos, como succionar e apertar. Através da experimentação, suas habilidades vão se enriquecendo e se aperfeiçoando, e o bebê consegue orientar as suas ações a um fim determinado, como aproximar um objeto que está longe.

O processo de adaptação se desenvolve da seguinte forma:

  1. A pessoa assimila dados da realidade por meio de suas percepções e ações. Os novos itens são reformulados de acordo com as estruturas já existentes. O esquema não muda.
  2. Quando a informação que recebe já não pode ser assimilada, o esquema mental deve ser modificado. Reestrutura-se e cria novos instrumentos para assimilar os novos elementos. O esquema muda, acomoda-se.
  3. A pessoa construiu conhecimento, que é o resultado de uma reconstrução contínua entre um sujeito (pessoa que aprende) e um objeto (mundo).

O conhecimento nunca é uma cópia da realidade. A inteligência como ação implica uma transformação do objeto, que pode ser físico ou conceitual, e do sujeito. Por exemplo:

Exemplos de assimilação e acomodação

AssimilaçãoAcomodação
Um garotinho que tem como animal de estimação um gato laranja e grande vê na rua um gato cinza e muito menor que o seu, então afirma que isso não é um gato.  O pai explica a ele que os gatos podem ser maiores ou menores, e de diferentes cores. A criança modifica o seu conceito de “gato”.  
Uma jovem começa a aprender um idioma novo, e utiliza como referência o que já conhece para “traduzir” tudo a esquemas mentais já concebidos.  Quando avança em sua aprendizagem, já não necessita “traduzir” o pensamento a um idioma anterior, senão que pode elaborar o pensamento diretamente no idioma novo, porque suas estruturas se modificaram.
Um bebê recebe pela primeira vez uma mamadeira e imediatamente tenta chupá-la, pois a experiência com o mamilo materno o preparou para se relacionar com os objetos dessa maneira.  Com a prática, o bebê aprende a segurar a mamadeira para poder chupar e tomar o leite, ação que não era necessária com o seio materno, incorporando uma diferença entre os dois objetos.    
Uma menina brinca com bolas de borracha, até que recebe uma de pano. A reconhece como “bola” por suas formas semelhantes.  A menina tenta jogá-la e percebe que não reage do mesmo modo que as de borracha. Seu conceito de bola se amplia para acomodar a nova distinção dentro da categoria “bola”.  
Um bebê coloca na boca todos os objetos que lhe são apresentados, porque é assim que os conhece.  Quando um objeto apresenta características que não lhe permitem agarrá-lo ou levá-lo à boca, o bebê deve procurar outra forma de manipulá-lo, porque seu esquema preexistente não lhe permite assimilar o novo objeto.  
Uma criança aprende o conceito de cachorro a partir de ilustrações de cachorros grandes, ou talvez com um deles grande em casa. Quando a criança vê um cachorro pequeno, chama de “gato”, porque ela não responde ao seu esquema anterior do que é um cachorro.  A criança recebe informação sobre cachorros e gatos, e consegue adicionar características a cada um deles e reconhecer mais diferenças entre eles.  
Um cientista trabalha no desenvolvimento de uma vacina utilizando hipóteses e teorias que serviram anteriormente para criar outras vacinas.O cientista descobre que o vírus que estuda tem características específicas e que suas hipóteses não são úteis. Deve reorganizar e repensar suas teorias para adaptá-las ao seu objeto de estudo.  
Um grupo de pessoas visita um país que tem uma cultura muito diferente da sua. Alguns costumes lhe parecem incompreensíveis, porque os compara com as suas culturas vivenciadas em seu país.  O grupo se informa sobre a origem dos costumes do país visitado, observa e faz perguntas aos habitantes do lugar. Entende que para compreender esta cultura deve modificar a sua forma de pensar.  
Um jovem tem uma ideia de família que envolve viver com o pai e a mãe na mesma casa. Quando os pais se divorciam, ele tem dificuldade em aceitar a decisão de ambos e a primeira reação é a negação.  Com o tempo, o jovem constrói ideias de famílias diferentes e pode aceitar que seus pais vivam em casas separadas.  
Uma pessoa com baixa autoestima interpreta, com base na sua autopercepção, um elogio pelo seu desempenho profissional como uma agressão.  Para poder aceitar um elogio, a pessoa deve trabalhar internamente para que sua percepção se ajuste à realidade.

Referências

  • Parrat-Dayan, S. (2012). Esencia y trascendencia de la obra de Jean Piaget (1896-1980). Persona, (15), 213-224.
  • Sulle, A. y Zerba, D. (Comps.) (2019). La trama epistémica de la psicología. FEDUN.

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Gómez, María Inés. Assimilação e acomodação. Enciclopédia de Exemplos, 2024. Disponível em: https://www.ejemplos.co/br/assimilacao-e-acomodacao/. Acesso em: 13 de novembro de 2024.

Sobre o autor

Autor: María Inés Gómez

Psicopedagogia (IES Alicia Moreau de Justo). Arteterapia (CAECE e SEUBE-UBA ).

Traduzido por: Cristina Zambra

Licenciada em Letras: Português e Literaturas da Língua Portuguesa (UNIJUÍ).

Data de publicação: 22 de junho de 2024
Última edição: 29 de outubro de 2024

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