30 Exemplos de
Autobiografia

A autobiografia é um gênero literário que consiste no relato de uma pessoa sobre sua própria vida. Inclui os eventos mais relevantes e determinantes de sua história, como a data de nascimento, a publicação de uma obra, anedotas, hobbies, o recebimento de um prêmio, a morte de um parente, o casamento, o nascimento de um filho, entre muitos outros.

Estas narrativas costumam ser escritas em primeira pessoa e os eventos narrados estão circunscritos à vida do autor. Nelas prevalece a figura do “eu”. O autor, o protagonista e o narrador convergem em uma única pessoa.

Apesar de as autobiografias contarem a história de uma vida, nem sempre precisam seguir a ordem cronológica. Podem abranger uma grande parte da vida do autor ou narrar um episódio ou período específico, como a infância ou a adolescência. Podem incluir fatos e eventos transcendentais, uma descrição do ambiente e do contexto, projetos, objetivos, metas e aspirações, sempre de um ponto de vista subjetivo, ou seja, da perspectiva do autor.

As autobiografias geralmente são escritas em prosa, embora não haja regras sobre a sua estrutura ou extensão. Como gênero literário, utiliza os recursos poéticos típicos da literatura, como figuras retóricas, descrições e até mesmo a ficcionalização de alguns eventos. É um gênero relacionado aos diários íntimos e às memórias (estes últimos são frequentemente tratados como sinônimos).

Atenção: As autobiografias não devem ser confundidas com biografias, que são relatos da vida de uma pessoa escritos por outra pessoa. Por exemplo, a biografia de Maria Antonieta, escrita por Stefan Zweig.

Exemplos de autobiografias

  1. Eric Clapton: A Autobiografia (fragmento)
    (trad. Lúcia Brito)

A verdade que enfim descobri foi que minha mãe e meu pai, Rose e Jack Clapp, de fato eram meus avós, Adrian era meu tio, e Patrícia, filha de Rose de um casamento anterior, era minha verdadeira mãe e havia me dado o nome de Clapton. Na metade da década de 1920, Rose Mitchell, como ela então se chamava, conheceu e se apaixonou por Reginald Cecil Clapton, conhecido por Rex, o belo e garboso filho de um oficial do exército indiano, educado em Oxford. Casaram-se em fevereiro de 1927, muito a contragosto dos pais dele, que julgavam que Rex estava se unindo a alguém de condição inferior. O casamento ocorreu poucas semanas depois de Rose ter dado à luz o primeiro filho, meu tio Adrian. Eles montaram casa em Woking, mas infelizmente foi um casamento de curta duração, pois Rex morreu de tuberculose em 1932, três anos depois do nascimento do segundo filho, Patricia.            

  1. Autobiografia, de Agatha Christie (fragmento)
    (trad. Maria Helena Trigueiros)

É difícil saber qual é nossa primeira recordação. Lembro distintamente o dia em que completei três anos. Lembro-me de quanto me senti importante. Tomávamos o chá no jardim — uma parte do jardim em que, anos mais tarde, uma rede balançava, suspensa entre duas árvores.

 A mesa estava repleta de doces, o bolo de aniversário era coberto de glacê e exibia as tradicionais velas. Três Velas. E uma excitante ocorrência — uma minúscula aranha vermelha, tão pequena que eu mal podia enxergá-la, surgira correndo pela toalha. E minha mãe dissera:
“É uma aranha que dá sorte, Agatha, um bom augúrio para seu aniversário…” Depois, a memória se esvai, guardando apenas as reminiscências fragmentárias de uma interminável discussão mantida com meu irmão, relacionada com o número de doces de creme que ele tinha licença de comer.

Encantador, seguro e, no entanto, excitante mundo da infância! Em meu mundo, talvez a coisa mais absorvente fosse o jardim. Cada ano que passava, esse jardim significava mais para mim. Conhecia cada árvore, e a cada uma delas atribuía um significado especial. Desde muito cedo, em meu pensamento, o jardim se dividia em três partes.

  1. Um Longo Caminho para a Liberdade, Nelson Mandela (fragmento)
    (trad. Victor Antunes)

Nasci no dia 18 de Julho de 1918, em Mvezo, um minúsculo lugarejo nas margens do rio Mbashe, no distrito de Umtata, a capital do Transkei. O ano em que nasci assinalou o final da Grande Guerra, o eclodir de uma epidemia de gripe que vitimou milhões de pessoas por todo o mundo e a visita de uma delegação do Congresso Nacional Africano a Conferência de Paz de Versalhes para denunciar as injustiças sofridas pelo povo da África do Sul. Mas Mvezo era um lugar à parte, um espaço ínfimo, afastado dos grandes eventos do mundo, onde a vida decorria mais ou menos como tinha sido durante centenas de anos.          

  1. Viver para Contá-la, de Gabriel García Márquez (fragmento)
    (Trad. Maria do Carmo de Abreu)

Até à adolescência, a memória tem mais interesse no futuro do que no passado, e portanto as minhas recordações da aldeia não estavam ainda idealizadas pela nostalgia. Recordava-a como era: um lugar bom para viver, onde toda a gente se conhecia, na margem de um rio de águas transparentes que se precipitavam por um leito de pedras polidas, brancas e enormes como ovos pré-históricos. Ao entardecer, sobretudo em Dezembro, quando acabavam as chuvas e o ar se tornava de diamante, a Sierra Nevada de Santa Marta parecia aproximar-se com os seus píncaros brancos das plantações de bananas da margem oposta. Viam-se dali os índios arhuacos correndo em carreiros de formiguinhas pelas cornijas da serra, com os seus fardos de gengibre às costas e mastigando bolas de coca para manter a vida. Nós, as crianças, tínhamos então a ilusão de fazer bolas com as neves perpétuas e brincar às guerras nas ruas abrasadoras. Pois o calor era tão inverosímil, sobretudo durante a sesta, que os adultos se queixavam dele como se fosse uma surpresa de cada dia.

  1. Rita Lee: uma autobiografia (fragmento)

Num dia de total desespero, fui ao terraço no segundo andar do casarão, que dava para os fundos da vizinhança, e comecei a gritar para Peter Pan vir me buscar. Eis que eu vi, com estes olhinhos que a terra não há de comer porque serei cremada, três luzinhas metálicas fazendo acrobacias divertidas no céu. Ao avistar aquilo, parei de gritar por dez segundos para observar, depois dobrei a meta e recomecei a gritar mais alto ainda, até que meu pai chegou ao terraço esbaforido, crente que eu havia despencado de lá. Diálogo do pai com a filha:

“Rita, o que está acontecendo por aqui?”

“Peter Pan! Peter Pan! Eu vi o Peter Pan!”

“Onde?”

“Logo ali no céu, pai!”

“Me conta como era.”

“Três luzinhas.”

“O.k. De que cor?”

“Coloridas.”

“O que elas faziam?”

 “Uma dancinha.”

“O.K. Como era essa dancinha?”

“Mudavam de lugar uma com a outra.”

“O que aconteceu depois?”

“Sumiram de repente. Juro que eu vi, pai. Não é mentira!”

“Rita, eu acredito em você e vou te contar uma verdade: Papai Noel, Coelho da Páscoa, Deus e o Diabo, Céu e Inferno, essas bobagens não existem, quem compra os presentes é sua mãe. O que você viu não foi o Peter Pan. Você viu um disco voador, minha filha!”

Da série “a verdade dói, mas liberta”. O primeiro disco voador a gente nunca esquece. Já avistei vários, sóbria e nem tanto. Pero que los hay, los hay.

Mais exemplos de autobiografias de personalidades

  1. Confissões, Agostinho de Hipona.
  2. Minhas Experiências com a Verdade, Mahatma Gandhi.
  3. Memórias de uma Moça Bem-Comportada, Simone de Beauvoir.
  4. O Primeiro Homem, Albert Camus.
  5. É Isto é um Homem?, Primo Levi.
  6. História da Minha Vida, Giacomo Casanova.
  7. Peixe na Água, Mario Vargas Llosa.
  8. As Cinzas de Ângela, Frank McCourt.
  9. Paris é uma Festa, Ernest Hemingway.
  10. Fala, Memória: Uma Autobiografia Revisitada, Vladimir Nabokov.
  11. Memórias, Tennessee Williams.
  12. Lutando na Espanha, George Orwell.
  13. De Minha Vida: Poesia e Verdade, Johann Wolfgang von Goethe.
  14. Infância, Adolescência e Juventude, Leon Tolstói.
  15. As Palavras, Jean Paul Sartre.
  16. Ecce Homo: Como Alguém se Torna Aquilo que É, Friedrich Nietzsche.
  17. Minha Mocidade, Winston Churchill.
  18. A História de Minha Vida, Helen Keller.
  19. Uma História de Amor e Trevas, Amós Oz.
  20. Lanterna Mágica, Ingmar Bergman.
  21. A Autobiografia do Visconde de Mauá
  22. Minha vida. Uma Tentativa Autobiográfica, Leon Trotsky.
  23. Uma Terra Prometida, Barack Obama.
  24. Minha Breve História, Stephen Hawking.
  25. Os Fatos, Philip Roth.

Como escrever uma autobiografia?

  • Embora diferentes métodos e estruturas possam ser usados para escrever uma autobiografia, há algumas etapas que você deve ter em mente:
  • Escolher o que pretende contar. Em uma primeira etapa, é importante definir a parte ou situação da vida que se deseja compartilhar. Ou seja, se quiser contar uma grande parte da vida, se quiser incluir eventos diferentes em ordem cronológica, se quiser se concentrar em alguns eventos, entre outros aspectos.
  • Documentação. Uma vez decidida a situação ou o período que deseja descrever, deve-se usar a própria memória, bem como os documentos, anotações, fotografias ou diários que tiver disponíveis para fazer anotações sobre fatos, sensações e experiências que se deseja transmitir. Também pode ser útil recorrer a pessoas próximas que possam fornecer informações ou anedotas sobre um período da vida pessoal.
  • Organizar as informações. A partir de todas as informações coletadas, será necessário decidir o que incluir e o que não incluir. Também é importante, nesta etapa, determinar a ordem em que os eventos serão contados.
  • Fazer um rascunho. No início do processo de redação, algumas decisões precisam ser tomadas, por exemplo, se serão mantidos os nomes originais das pessoas que aparecem na autobiografia, como o texto será escrito, em que tom e registro, que tipo de linguagem será usada. É importante mencionar que a autobiografia geralmente é escrita para um terceiro, portanto, é aconselhável escrevê-la de forma atraente para o leitor.

Continue com:

¿Te interesan nuestros contenidos?

Puedes seguir nuestra cuenta de Instagram, donde publicamos contenidos exclusivos.

Como citar?

Citar a fonte original da qual extraímos as informações serve para dar crédito aos respectivos autores e evitar cometer plágio. Além disso, permite que os leitores acessem as fontes originais que foram utilizadas em um texto para verificar ou ampliar as informações, caso necessitem.

Para citar de forma adequada, recomendamos o uso das normas ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), que é uma entidade privada, sem fins lucrativos, usada pelas principais instituições acadêmicas e de pesquisa no Brasil para padronizar as produções técnicas.

As citações ou referências aos nossos artigos podem ser usadas de forma livre para pesquisas. Para citarnos, sugerimos utilizar as normas da ABNT NBR 14724:

, Equipo editorial, Etecé. Autobiografia. Enciclopédia de Exemplos, 2024. Disponível em: https://www.ejemplos.co/br/autobiografia/. Acesso em: 28 de agosto de 2024.

Sobre o autor

Traduzido por: Márcia Killmann

Licenciatura em letras (UNISINOS, Brasil), Doutorado em Letras (Universidad Nacional del Sur).

Data de publicação: 23 de julho de 2024
Última edição: 23 de julho de 2024

Esta informação foi útil para você?

Não

    Genial! Obrigado por nos visitar :)