20 Exemplos de
Autonomia e heteronomia

A autonomia e a heteronomia são conceitos associados à ação humana, que indicam se um comportamento é realizado por efeito das decisões tomadas por conta própria ou através da influência de algum agente externo. Por exemplo: vestir-se segundo o gosto pessoal ou usar sempre a roupa que está na moda, nas revistas.

Ambos os termos foram introduzidos pelo filósofo Immanuel Kant (1724-1804) para designar os princípios que determinam a vontade.

  • Autonomia. Refere-se ao comportamento dirigido pela razão.
  • Heteronomia. Refere-se ao comportamento guiado pelas influências externas.

A diferença entre as ações autônomas e as heterônomas foi estudada pela psicologia e em pesquisas a respeito da moral. É complexo definir se as normas morais provêm da própria pessoa ou de fatores externos. Por exemplo: que uma pessoa escolha ser responsável e devolver um livro que pegou emprestado da biblioteca a tempo pode ser uma decisão autônoma, mas a regra foi imposta por uma instituição externa.

Ambos os princípios são necessários para viver em comunidade. A autonomia possibilita o desenvolvimento da individualidade frente as outras pessoas. Por sua vez, a heteronomia permite que a sociedade se organize mediante normas que regulam a convivência.

Diferenças entre autonomia e heteronomia

AutonomiaHeteronomia
É a capacidade de decidir por si mesmo.É a aceitação das regras impostas.
Implica o pensamento crítico e o reconhecimento do próprio desejo.Pode ser experimentado com indiferença ou como algo que é necessário suportar.
Relaciona-se com a independência, com a criatividade e com a cooperação.  Relaciona-se com o conformismo, com a rigidez e com o cumprimento das normas.
Leva em consideração o contexto e os motivos que geram uma ação.Leva em consideração o resultado.
Concebe a justiça como um restabelecimento do equilíbrio que se perde ao cometer uma falta.Concebe a justiça com uma função expiatória (repara a falta mediante um castigo).

Contribuições da psicologia

O psicólogo Jean Piaget (1896–1980) estudou o desenvolvimento moral nas crianças desde um enfoque construtivo, ou seja, desde a interação entre o indivíduo e a sociedade. Piaget descreveu o desenvolvimento moral como uma passagem da heteronomia à autonomia. Neste processo, diferenciou duas fases:

  • Fase heterônoma. Desde a primeira socialização, aproximadamente aos 2 anos, até os 8 anos, as crianças reconhecem as regras impostas como inquestionáveis e imodificáveis. Isto depende das relações assimétricas (criança–adulto) e do tipo de pensamento, que nesta fase é egocêntrico: está centrado no próprio ponto de vista e não tenta entender outros pontos de vista. Nesta fase, as regras são aceitas como objetos externos. A moral heterônoma respeita qualquer regra que venha do exterior, sem importar seu conteúdo.
  • Fase autônoma. Dos 9 aos 12 anos, as crianças interiorizam as regras. Produz-se um descentramento cognitivo, ou seja, o pensamento próprio confronta-se com outros pontos de vista. Isto acontece por meio das relações simétricas (cooperação com pares). Nesta interação, é necessário consensualizar as regras, em vez de aceitá-las. A moral autônoma respeita uma regra quando resulta de um acordo.

O resultado do processo descrito por Piaget é um indivíduo que internaliza as regras e pode determinar o que é certo e o que é errado. Neste sentido, uma moralidade autônoma se baseia no respeito das regras a partir de uma postura crítica.

Por exemplo: durante a fase heterônoma, uma criança pode dizer que mentir é errado porque alguém pode se irritar se descobre a mentira. Na fase autônoma, dirá que mentir é errado porque pode prejudicar ou porque não se deve fazer às outras pessoas o que não queremos que façam a nós.

Autonomia e condicionantes externos

É complexo distinguir objetivamente os comportamentos autônomos dos comportamentos heterônomos. Na vida em sociedade, a autonomia não é absoluta, porque as ações sempre têm um grau de dependência do meio e das demais pessoas. Tomar decisões é um processo complexo que inclui múltiplos fatores. Por exemplo: os desejos próprios, as necessidades de outras pessoas, o ambiente familiar, o lugar onde se vive, a economia.

A socialização implica aprender a viver de acordo com determinadas regras. A identidade é construída a partir das relações com um ambiente determinado, por isso que a capacidade de autonomia não é totalmente independente. Ao longo da história, houve uma série de fatores que condicionaram a forma de pensar, de sentir e de agir das pessoas. Por exemplo: a religião, a cultura capitalista, as modas.

A possibilidade de autonomia depende de acordos sociais que indicam o que está bem e o que está mal, e do contexto do qual se é parte.

Exemplos de comportamentos autônomos

  1. Praticar um esporte porque gosta da atividade.
  2. Decidir se separar, apesar do desacordo dos pais.
  3. Deixar de fumar porque se compreende que é prejudicial.
  4. Decidir as preferências políticas individuais.
  5. Ouvir um estilo de música além das tendências.
  6. Escolher um curso universitário com base em gostos pessoais.
  7. Participar de atividades tradicionais com as quais a pessoa se identifica.
  8. Não seguir as ações do grupo se acredita que estão incorretas.
  9. Refletir sobre as regras e questioná-las sempre que necessário.
  10. Ter uma alimentação saudável para se sentir bem.

Exemplos de comportamentos heterônomos

  1. Iniciar uma atividade porque o grupo de amigos pratica uma atividade.
  2. Continuar em um relacionamento que não quer mais por pressão familiar.
  3. Dar ouvidos a um médico diante de qualquer conselho ou receita.
  4. Fazer parte de uma rede de apoio a um político em troca de favores.
  5. Preferir sempre a música que toca na rádio.
  6. Estudar um curso universitário porque tem muita publicidade.
  7. Continuar com uma tradição na qual não se tem interesse.
  8. Maltratar um colega porque outros colegas fazem isso.
  9. Acatar uma ordem que é contrária ao pensamento próprio.
  10. Começar uma dieta porque é tendência nas redes sociais.

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Referências

  • Galindo Olaya, J. D. (2012). Sobre la noción de autonomía en Jean Piaget. Educación y Ciencia, (15), 23-25. https://revistas.uptc.edu.co/
  • Muros, B. (2009). ¿Yo soy yo? Algunas reflexiones sobre el concepto de autonomía. Revista Española de Educación Física y Deportes, (13). https://www.reefd.es/

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Gómez, María Inés. Autonomia e heteronomia. Enciclopédia de Exemplos, 2024. Disponível em: https://www.ejemplos.co/br/autonomia-e-heteronomia/. Acesso em: 30 de outubro de 2024.

Sobre o autor

Autor: María Inés Gómez

Psicopedagogia (IES Alicia Moreau de Justo). Arteterapia (CAECE e SEUBE-UBA ).

Traduzido por: Cristina Zambra

Licenciada em Letras: Português e Literaturas da Língua Portuguesa (UNIJUÍ).

Data de publicação: 15 de julho de 2024
Última edição: 13 de outubro de 2024

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