A autonomia e a heteronomia são conceitos associados à ação humana, que indicam se um comportamento é realizado por efeito das decisões tomadas por conta própria ou através da influência de algum agente externo. Por exemplo: vestir-se segundo o gosto pessoal ou usar sempre a roupa que está na moda, nas revistas.
Ambos os termos foram introduzidos pelo filósofo Immanuel Kant (1724-1804) para designar os princípios que determinam a vontade.
- Autonomia. Refere-se ao comportamento dirigido pela razão.
- Heteronomia. Refere-se ao comportamento guiado pelas influências externas.
A diferença entre as ações autônomas e as heterônomas foi estudada pela psicologia e em pesquisas a respeito da moral. É complexo definir se as normas morais provêm da própria pessoa ou de fatores externos. Por exemplo: que uma pessoa escolha ser responsável e devolver um livro que pegou emprestado da biblioteca a tempo pode ser uma decisão autônoma, mas a regra foi imposta por uma instituição externa.
Ambos os princípios são necessários para viver em comunidade. A autonomia possibilita o desenvolvimento da individualidade frente as outras pessoas. Por sua vez, a heteronomia permite que a sociedade se organize mediante normas que regulam a convivência.
- Veja também: Coerção e coação
Diferenças entre autonomia e heteronomia
Autonomia | Heteronomia |
---|---|
É a capacidade de decidir por si mesmo. | É a aceitação das regras impostas. |
Implica o pensamento crítico e o reconhecimento do próprio desejo. | Pode ser experimentado com indiferença ou como algo que é necessário suportar. |
Relaciona-se com a independência, com a criatividade e com a cooperação. | Relaciona-se com o conformismo, com a rigidez e com o cumprimento das normas. |
Leva em consideração o contexto e os motivos que geram uma ação. | Leva em consideração o resultado. |
Concebe a justiça como um restabelecimento do equilíbrio que se perde ao cometer uma falta. | Concebe a justiça com uma função expiatória (repara a falta mediante um castigo). |
Contribuições da psicologia
O psicólogo Jean Piaget (1896–1980) estudou o desenvolvimento moral nas crianças desde um enfoque construtivo, ou seja, desde a interação entre o indivíduo e a sociedade. Piaget descreveu o desenvolvimento moral como uma passagem da heteronomia à autonomia. Neste processo, diferenciou duas fases:
- Fase heterônoma. Desde a primeira socialização, aproximadamente aos 2 anos, até os 8 anos, as crianças reconhecem as regras impostas como inquestionáveis e imodificáveis. Isto depende das relações assimétricas (criança–adulto) e do tipo de pensamento, que nesta fase é egocêntrico: está centrado no próprio ponto de vista e não tenta entender outros pontos de vista. Nesta fase, as regras são aceitas como objetos externos. A moral heterônoma respeita qualquer regra que venha do exterior, sem importar seu conteúdo.
- Fase autônoma. Dos 9 aos 12 anos, as crianças interiorizam as regras. Produz-se um descentramento cognitivo, ou seja, o pensamento próprio confronta-se com outros pontos de vista. Isto acontece por meio das relações simétricas (cooperação com pares). Nesta interação, é necessário consensualizar as regras, em vez de aceitá-las. A moral autônoma respeita uma regra quando resulta de um acordo.
O resultado do processo descrito por Piaget é um indivíduo que internaliza as regras e pode determinar o que é certo e o que é errado. Neste sentido, uma moralidade autônoma se baseia no respeito das regras a partir de uma postura crítica.
Por exemplo: durante a fase heterônoma, uma criança pode dizer que mentir é errado porque alguém pode se irritar se descobre a mentira. Na fase autônoma, dirá que mentir é errado porque pode prejudicar ou porque não se deve fazer às outras pessoas o que não queremos que façam a nós.
Autonomia e condicionantes externos
É complexo distinguir objetivamente os comportamentos autônomos dos comportamentos heterônomos. Na vida em sociedade, a autonomia não é absoluta, porque as ações sempre têm um grau de dependência do meio e das demais pessoas. Tomar decisões é um processo complexo que inclui múltiplos fatores. Por exemplo: os desejos próprios, as necessidades de outras pessoas, o ambiente familiar, o lugar onde se vive, a economia.
A socialização implica aprender a viver de acordo com determinadas regras. A identidade é construída a partir das relações com um ambiente determinado, por isso que a capacidade de autonomia não é totalmente independente. Ao longo da história, houve uma série de fatores que condicionaram a forma de pensar, de sentir e de agir das pessoas. Por exemplo: a religião, a cultura capitalista, as modas.
A possibilidade de autonomia depende de acordos sociais que indicam o que está bem e o que está mal, e do contexto do qual se é parte.
Exemplos de comportamentos autônomos
- Praticar um esporte porque gosta da atividade.
- Decidir se separar, apesar do desacordo dos pais.
- Deixar de fumar porque se compreende que é prejudicial.
- Decidir as preferências políticas individuais.
- Ouvir um estilo de música além das tendências.
- Escolher um curso universitário com base em gostos pessoais.
- Participar de atividades tradicionais com as quais a pessoa se identifica.
- Não seguir as ações do grupo se acredita que estão incorretas.
- Refletir sobre as regras e questioná-las sempre que necessário.
- Ter uma alimentação saudável para se sentir bem.
Exemplos de comportamentos heterônomos
- Iniciar uma atividade porque o grupo de amigos pratica uma atividade.
- Continuar em um relacionamento que não quer mais por pressão familiar.
- Dar ouvidos a um médico diante de qualquer conselho ou receita.
- Fazer parte de uma rede de apoio a um político em troca de favores.
- Preferir sempre a música que toca na rádio.
- Estudar um curso universitário porque tem muita publicidade.
- Continuar com uma tradição na qual não se tem interesse.
- Maltratar um colega porque outros colegas fazem isso.
- Acatar uma ordem que é contrária ao pensamento próprio.
- Começar uma dieta porque é tendência nas redes sociais.
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Referências
- Galindo Olaya, J. D. (2012). Sobre la noción de autonomía en Jean Piaget. Educación y Ciencia, (15), 23-25. https://revistas.uptc.edu.co/
- Muros, B. (2009). ¿Yo soy yo? Algunas reflexiones sobre el concepto de autonomía. Revista Española de Educación Física y Deportes, (13). https://www.reefd.es/
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