Os dilemas morais são situações que representam um conflito moral. Implicam escolher um curso de ação entre duas ou mais alternativas conflitantes, em uma circunstância em que não é fácil diferenciar o que é certo e o que é errado. Exigem reflexão profunda para argumentar a favor ou contra cada opção. Portanto, não há respostas certas e erradas, e suscitam perguntas que geram debates. Por exemplo: se um colega de sala de aula vê outro colega copiando respostas em uma prova, deve denunciá-lo porque é errado colar ou deve permanecer em silêncio para ser um bom colega de sala de aula?
Os dilemas morais são narrativas curtas, reais ou hipotéticas, que apresentam um conflito de valores: um personagem se depara com uma situação difícil e precisa escolher entre duas opções comparáveis. São ferramentas úteis para o ensino e a reflexão filosófica, pois permitem novas perspectivas sobre o que é tradicionalmente considerado certo e errado, aceitável e inaceitável.
A palavra “dilema” vem do grego dilemma, composta pelas palavras di (“dois”) e lemma (“premissa”). Designa um ponto crítico no qual uma escolha deve ser feita entre duas premissas ou proposições opostas e irreconciliáveis.
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Dilemas morais e desenvolvimento moral
O psicólogo americano Lawrence Kohlberg (1927–1987) pesquisou o raciocínio moral. Estabeleceu que cada pessoa assimila os valores de seu ambiente e age de acordo com eles. Entretanto, quando estes valores entram em conflito, surge uma crise que gera a possibilidade de modificar (acomodar) as ideias anteriores para resolver o problema.
Para exercitar este tipo de raciocínio, Kohlberg pôs estas situações de conflito como dilemas morais. Por exemplo: o “dilema de Heinz” postula que uma mulher está doente e precisa de um remédio caro. Seu marido, Heinz, tenta conseguir o dinheiro, mas só consegue a metade, e o farmacêutico se recusa a reduzir o preço. O protagonista considera o roubo da farmácia como uma opção. Surgem então perguntas como: Ele deveria roubar o medicamento? Por quê?
O modelo de Kohlberg se baseia na ideia de que a moralidade é um produto da interação do indivíduo com seu ambiente (natural e social). Desenvolve-se junto com os processos intelectuais por meio da aquisição de regras e princípios universais. Além disso, o conflito cognitivo é enriquecido na interação com os outros, considerando e comparando diferentes pontos de vista.
- Veja também: Autonomia e heteronomia
Tipos de dilemas morais
Os dilemas morais podem ser de dois tipos:
- Dilemas morais hipotéticos. Utilizam cenários fictícios ou imaginários para pensar e problematizar o que é certo e o que é errado em situações possíveis. Estas situações são improváveis, mas são úteis para estimular o raciocínio. Por exemplo: Uma equipe de profissionais é encarregada de projetar um programa de inteligência artificial (IA) para auxiliar nas decisões de emergência, como a distribuição de recursos em tempos de crise ou desastres. A programação apresenta duas alternativas: a primeira é que a IA priorize a eficiência, garantindo que os recursos sejam distribuídos rapidamente, mas correndo o risco de não chegar às comunidades mais remotas; a segunda alternativa é que a IA priorize a equidade, garantindo que todos recebam uma distribuição justa, mesmo que isso leve mais tempo. Como deveriam programar a IA para situações de crise, priorizando a velocidade ou a equidade?
- Dilemas morais reais. Abordam questões reais da vida cotidiana de um ponto de vista moral e buscam discernir o certo e o errado em seu contexto real e verdadeiro. Envolvem a possibilidade de pensar com mais empatia, pois geram identificação. Por exemplo: Alice está sozinha em sua casa enquanto sua avó, que cuida dela, sai para resolver problemas burocráticos e a proíbe de sair. Sua amiga Ana, que mora na casa ao lado, pede a Alicia que pule o muro do pátio que divide suas casas para lhe fazer companhia, pois está triste e não quer ficar sozinha. O que Alice deve fazer: obedecer à avó ou ajudar a amiga?
Exemplos de dilemas morais
Os exemplos de dilemas morais ajudam a refletir sobre as consequências das ações e a importância de considerar diferentes perspectivas antes de tomar uma decisão. Alguns exemplos são:
- Em um projeto em grupo na escola, um dos membros não fez sua parte do trabalho e os demais estão chateados porque, embora não tenham ajudado, receberão uma boa nota. Deveriam contar para o professor ou deveriam primeiro tentar resolver o problema entre todos os membros do grupo?
- João trabalha em uma fábrica de peças de automóveis que está passando por uma situação econômica difícil. Seu chefe pediu que ele começasse a solicitar aos fornecedores materiais de qualidade inferior. Em troca de sua discrição, oferece-lhe um aumento de salário. João discorda, pois isso poderia colocar em risco os futuros usuários dos carros, mas seu chefe insinua que ele deve fazer isso para manter seu emprego. Como João deve responder ao seu chefe?
- Cláudia percebe que alguns de seus colegas estão sempre provocando e tirando sarro de sua amiga Helena. Um dia, Helena pede sua ajuda para planejar uma vingança. Cláudia é sua amiga e quer defendê-la, mas, ao mesmo tempo, acha que seria errado resolver o problema desta forma. O que ela deve fazer?
- Daniel venceu um concurso e ganhou uma grande quantia em dinheiro. Ele está muito feliz e sua primeira intenção é usá-lo em uma viagem. Entretanto, logo pensa que poderia fazer uma doação para ajudar o abrigo de animais onde trabalha como voluntário e melhorar a qualidade de vida dos animais resgatados. Em que ele deve gastar o dinheiro?
- Ana estudou muito para uma prova de português. Sua amiga Júlia não estudou e, durante a prova, pede a ela que passe algumas respostas. Ana sabe que, se não passar, Júlia será reprovada. O que Ana deve fazer: ajudar sua amiga a colar ou respeitar as regras?
- Um grupo de pessoas vê um homem furtando um carregamento de alimentos. Em seguida, o veem entregando os produtos em um refeitório que serve comida gratuita para muitas pessoas carentes. É possível denunciar o roubo, mas isso implicaria a devolução dos mantimentos. Além disso, o homem cometeu um delito, mas por uma boa causa. Como as pessoas que testemunharam o furto devem agir?
- Na universidade, uma professora está trabalhando com seus alunos sobre a questão da igualdade entre homens e mulheres na sociedade. Depois de algumas pesquisas e discussões, a professora pede aos alunos que, em grupos, façam um pôster sobre o assunto para ser exposto no saguão. Uma das equipes entrega um cartaz expressando sua opinião de que as mulheres não devem ocupar os mesmos espaços que os homens. O professor considera que eles não podem expor este trabalho, mas alguns alunos objetam que isso violaria a liberdade de expressão. O que o professor deve fazer?
- Na sala de aula de Benício, um novo aluno que veio do exterior se juntou à turma e não fala bem o idioma. Isso levou a alguns de seus colegas zombarem dele. Benício sente pena do aluno recém-chegado e quer se aproximar dele, mas tem medo de ser zoado também. Ele deveria ajudar o novo colega de classe ou não se envolver na situação?
- Francisco perde uma aposta com um amigo e precisa pagá-la, mas não tem dinheiro. Então, decide pedir dinheiro ao pai, dizendo que é para comprar materiais para um projeto de ciências. Ele paga a dívida, mas se sente culpado por ter mentido. Ele fez a coisa certa, cumprindo a sua palavra ou terá feito a coisa errada mentindo para o pai? Como deveria ter agido?
- Vitória é a gerente de conteúdo de uma rede de notícias que está perdendo audiência. Está avaliando se deve começar a seguir as tendências e publicar informações que ela sabe que atraem muitas pessoas, mas que não considera valiosas ou relevantes. Em contrapartida, ela poderia continuar a abordar questões que considera importantes e correr o risco de não causar tanto impacto. O que ela deve fazer: priorizar informações de qualidade ou fazer o possível para aumentar seu público?
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Referências
- Cantillo Carmona, J., Domínguez Ibañez, A., Encinas Torres, S., Muñoz Ferriol, A., Navarro Conde, F. y Salazar Olivas, A. (2005). Dilemas morales. Un aprendizaje de valores mediante el diálogo. Nau Libres.
- Meza Rueda, J. L. (2008). Los dilemas morales: una estrategia didáctica para la formación del sujeto moral en el ámbito universitario. Revista Actualidades Pedagógicas, (52). https://ciencia.lasalle.edu.co
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