Exemplos de
Gênero narrativo

O gênero narrativo é um gênero literário no qual um narrador relata acontecimentos, reais ou fictícios, que são protagonizados por personagens em um tempo e lugar determinados. Por exemplo: um conto, um romance ou uma fábula.

O gênero narrativo costuma ser escrito em prosa, embora existam alguns casos de poemas narrativos, como, por exemplo, Agora Eu Quero Cantar, de Mário de Andrade, ou A Ilíada, de Homero.

Além disso, neste gênero, além da narração, é habitual que se utilizem figuras literárias e diversos recursos discursivos como o diálogo e a descrição, que servem para dotar os textos de maior expressividade.

Por outro lado, na narrativa, quem conta a história se denomina narrador, uma entidade que enuncia e relata os fatos desde um ponto de vista em particular. O narrador pode usar a primeira pessoa (para gerar uma maior proximidade com os fatos), a segunda pessoa (para apelar mais diretamente ao leitor) ou a terceira pessoa (para gerar uma visão externa ou mais ampla). Por sua vez, o foco narrativo pode variar ao longo de uma mesma narrativa.

Geralmente, os textos que pertencem ao gênero narrativo contam com uma estrutura interna que se compõe de introdução, desenvolvimento e desfecho, e de uma estrutura externa que, dependendo do gênero, serão capítulos, atos, seções, partes ou volumes.

Os outros dois grandes gêneros literários, além do narrativo, são o gênero lírico ou poético, que se costuma escrever em verso e expressa sentimentos ou estados de ânimo de um eu lírico, e o gênero dramático, que se constrói com diálogos e didascálias e se destina à representação.

Subgêneros narrativos

Dentro do gênero narrativo, podem-se encontrar diversos subgêneros, entre eles:

  • Conto. Geralmente é escrito em prosa e se caracteriza por sua brevidade, pelo número reduzido de seus personagens e por apresentar uma única trama central que leva rapidamente a um desfecho.
  • Romance. De maior extensão que o conto, narra uma sucessão de acontecimentos que podem ser reais ou fictícios e costuma apresentar múltiplos personagens dentro de uma estrutura mais complexa.
  • Lenda. É uma narrativa popular que combina fatos com outros acontecimentos sobrenaturais e que explica algum fenômeno da vida de uma cultura determinada. Tradicionalmente, são transmitidas de forma oral, mas atualmente são também compiladas em versões impressas.
  • Mito. Oferece explicações sobre a origem do mundo e dos deuses, e suas relações com os seres humanos, e geralmente transmite a cosmovisão de uma cultura em particular.
  • Fábula. Narra uma breve história normalmente protagonizada por animais que estão personificados, por isso apresentam características humanas, como a capacidade de falar, pensar ou apaixonar-se. As fábulas contêm um ensinamento denominado “moral” e propõem-se transmitir a moral de uma sociedade.
  • Epopeia. Tem um caráter mítico já que narra façanhas de seres heroicos, deuses e seres mitológicos, e o narrador se situa fora dos fatos buscando certa objetividade.
  • Canção de gesta. É um conjunto de poemas épicos que se dedica a narrar as façanhas dos cavaleiros da Idade Média. Denominam-se “canções” porque eram transmitidos por menestréis que recitavam estas histórias, devido ao analfabetismo da sociedade da época (séculos XI e XII).
  • Parábola. Embora seja mais breve do que a fábula, também procura transmitir um ensinamento moral e o faz através do recurso da analogia ou do simbolismo.
  • Biografia. É um relato escrito em terceira pessoa sobre a vida de uma pessoa importante, destacada e seus momentos mais relevantes.
  • Crônica. Trata-se de um texto, muitas vezes, jornalístico que respeita a ordem temporal dos fatos com o objetivo de contar uma história real ou cotidiana, para a qual se utilizam habitualmente diversos recursos literários.
  • Notícia. É um tipo de texto jornalístico que dá a conhecer de forma breve e concisa um fato de atualidade com uma função informativa.
  • Reportagem. É uma investigação jornalística de certa extensão, na qual se reconstitui um acontecimento ou uma série de acontecimentos de caráter notícia.

Exemplos de gênero narrativo

  1. O Coração Delator, de Edgar Allan Poe (exemplo de conto)

(Fragmento)

Prestem atenção agora. Vocês me tomam por louco. Mas os loucos não sabem nada. Em troca…, Se tivessem podido me ver! Se tivessem podido ver com qual habilidade procedi! Com qual cuidado… com qual previsão… com qual dissimulação comecei a trabalhar! Nunca fui mais simpático com o velho do que na semana antes de o matar. Todas as noites, por volta da meia noite, eu fazia girar a maçaneta da porta e abria-a… oh, tão suavemente!

E então, quando a abertura era grande o bastante para passar a cabeça, levantava uma lanterna surda, fechada, completamente fechada, de maneira que não se visse nenhuma luz, e atrás dela passava a cabeça. Oh, vocês teriam rido ao ver quão astutamente passava a cabeça! Movia-a lentamente… muito, muito lentamente, a fim de não perturbar o sono do velho. Levei uma hora para colocar a cabeça pela abertura da porta, até vê-lo deitado em sua cama. E? É que um louco teria sido tão prudente como eu?

E então, quando tinha a cabeça completamente dentro do quarto, abria a lanterna cuidadosamente… oh, tão cuidadosamente! Sim, cuidadosamente ia abrindo a lanterna (pois estalavam as dobradiças), ia abrindo o suficiente para que um só raio de luz caísse sobre o olho de abutre. E fiz isso durante sete longas noites… todas as noites, à meia noite… mas sempre encontrei o olho fechado, e por isso me era impossível cumprir minha obra, porque não era o velho quem me irritava, senão o olho gordo.

E pela manhã, logo no início do dia, entrava sem medo em seu quarto e lhe falava resolutamente, chamando-o por seu nome com voz cordial e perguntando-lhe como havia passado a noite. Como veem, teria de ser um velho muito astuto para suspeitar que todas as noites, precisamente à meia noite, ia olhar para ele enquanto dormia.

  1. Guerra e Paz, de León Tolstoi (exemplo de romance)

(Fragmento)

O meu objetivo amanhã não será ferir e matar, mas sim impedir que os meus soldados fujam do terror que se apoderará deles e de mim. Meu objetivo será que caminhem juntos e assustem os franceses e que os franceses se assustem antes de nós. Nunca aconteceu, nem acontecerá que dois regimentos tenham colidido e lutado e é impossível. (Sobre Schengraben, escreveram que lutamos desse modo com os franceses. Eu estive ali. E não é certo: os franceses fugiram). Se tivessem colidido, teriam lutado até que todos tivessem caído mortos ou feridos, e isso nunca acontece.

  1. A Lenda do Curupira (exemplo de lenda)

A lenda caracteriza o curupira como um menino de tamanho pequeno, de cabelos vermelhos, dentes afiados e pés virados para trás. Seu objetivo é desorientar caçadores. Para isso, ele usa assobios ensurdecedores e suas pegadas ao contrário.

Ainda segundo a lenda, relatada no Dicionário do Folclore Brasileiro, escrito pelo célebre historiador e folclorista potiguar Luís de Câmara Cascudo, as características físicas do curupira podem mudar de acordo com a região: ele pode ser maior, careca, peludo, ter olhos verdes e dentes azuis.

De acordo com o folclore, o curupira assusta somente os caçadores que destroem a floresta, não aqueles que caçam ou usam os recursos da mata para se abrigar, matar a fome ou sede. Mesmo assim, os índios temem sua presença e oferecem presentes em forma de oferendas para acalmá-lo. O costume pegou e até hoje é comum seringueiros, entre outros extrativistas, oferecerem comida, bebida ou objetos ao curupira quando adentram na floresta.

  1. Rômulo e Remo (exemplo de mito)

Numitor era o rei de Alba Longa, mas foi destronado por Amúlio, seu irmão. Reia Sílvia, filha de Numitor, teve dois filhos gêmeos, Rômulo e Remo. Ela tinha medo que o tio os matasse, então os colocou em uma cesta e a deixou em um rio.

Foi assim que uma loba encontrou os irmãos e os criou como se fossem seus filhos. Mais tarde, foram encontrados por dois camponeses que cuidaram deles. Um dia, os gêmeos descobriram sua identidade e foram a Alba Longa para matar Amúlio e devolver o trono a Numitor.

O avô agradeceu-lhes o feito e deu-lhes terras no Lácio, onde, pouco tempo depois, Rômulo fundou Roma.

  1. A Lebre e a Tartaruga (exemplo de fábula)

Era uma vez uma lebre muito vaidosa por sua velocidade. Sempre zombava da lentidão da tartaruga que não ligava para as suas zombarias, até que um dia se cansou e a desafiou para uma corrida. A lebre estava muito surpresa, mas aceitou.

Reuniram-se os animais para observar a corrida e foram determinados os pontos de partida e de chegada. Quando a corrida começou, a lebre deu muito tempo de vantagem à tartaruga, enquanto zombava dela. Então, ela começou a correr e ultrapassou a tartaruga com muita facilidade. No meio do caminho, parou e descansou. Mas sem perceber, adormeceu.

Entretanto, a tartaruga avançava lentamente, mas sem parar. Quando a lebre acordou, a tartaruga estava a poucos passos da linha de chegada, e embora a lebre tenha corrido o mais rápido que pode, não conseguiu ganhar a corrida.

A lebre aprendeu lições valiosas naquele dia. Aprendeu a não zombar dos outros, já que ninguém pode se considerar superior a ninguém, e além disso descobriu que o mais importante é manter um esforço constante quando se propõe um objetivo.

  1. A Odisseia, de Homero (exemplo de epopeia em verso)

(Fragmento: Encontro de Ulisses com as sereias)

Enquanto o navio sólido em seu curso leve
enfrentou as Sereias: um sopro feliz a impelia
mas de repente aquela brisa cessou, uma calma profunda
sentiu-se ao redor: algum deus alisava as ondas.

Então, os meus homens se levantaram, dobraram a vela,
a deixaram cair ao fundo do barco e, sentando-se ao remo,
branqueavam de espumas o mar com as pás polidas.
Eu, entretanto, peguei o bronze agudo, cortei um pão de cera
e, partindo-o em pedaços pequenos, fui beliscando-os
com minha mão robusta: amaciaram-se logo, que eram
poderosos meus dedos e o fogo do sol do alto.

Um por um, com meus homens tampei os ouvidos
e, por sua vez, ataram-me de pernas e mãos
no mastro, direito, com fortes maromas e, em seguida,
a açoitar com os remos voltaram ao mar espumante.
Já distava o litoral não mais que o alcance de um grito
e a nave cruzadora voava, mas perceberam
as Sereias seu passo e levantaram seu canto sonoro:

“Chega aqui, dos dânaos honra, gloriosíssimo Ulisses,
de tua marcha refreia o ardor para ouvir nosso canto,
porque ninguém em seu preto passa aqui sem que atenda
a esta voz que em doçuras de mel dos lábios nos flui.
Quem a escuta contente se vai conhecendo mil coisas:
os trabalhos sabemos que lá pela Trôade e seus campos
dos deuses impôs o poder a troianos e argivos
e ainda aquilo que ocorre em toda a terra fecunda”.

Tal diziam exalando dulcíssima voz e em meu peito
eu desejava ouvi-las. Franzia minhas sobrancelhas, mandava
os meus homens soltaram a minha atadura; avançavam dobrados
contra o remo e em pé Perimedes e Euríloco, lançando
sobre mim novas cordas, cruelmente forçavam seus nós.
Quando finalmente as deixamos para trás e não mais se escutava
voz nenhuma ou canção de Sereias, meus fiéis amigos
tiraram a cera que eu em seus ouvidos havia
colocado ao vir e me livraram de meus laços.

  1. A Canção de Rolando (exemplo de canção de gesta)

(Fragmento)

Oliveros subiu a uma colina. Olha para sua direita e vê avançar as hostes dos infiéis por um vale coberto de grama. Chama ao lugar Rolando, seu companheiro, e lhe diz:

— Tão crescido rumor ouço chegar pelo lado da Espanha, vejo brilhar tantas cotas e tantas espadas cintilar! Essas hostes devem colocar em grave perigo nossos franceses. Bem sabia Ganelão, o baixo traidor que diante do imperador nos elegeu.

— Cale-se, Oliveros — responde Rolando —; é meu padrasto e não quero que diga mais nenhuma palavra sobre ele!

Oliveros subiu até uma altura. Seus olhos abrangem em todo o horizonte o reino da Espanha e os sarracenos que se reuniram em uma multidão imponente. Reluzem os elmos em cujo ouro se engasgam as pedras preciosas, e os escudos, e o aço das cotas, e também as espadas e os gonfalones atados às adagas. Nem sequer pode fazer a soma dos diferentes corpos de exército: são tão numerosos que perde a conta. No seu interior, sente-se fortemente perturbado. Tão depressa quanto as pernas o permitem, desce a colina, aproxima-se dos franceses e conta-lhes tudo o que sabe.

— Vi os infiéis — diz Oliveros —. Jamais nenhum homem contemplou tanta multidão sobre a terra. São cem mil os que estão diante de nós com o escudo ao braço, amarrado o elmo e cobertos com a armadura branca; reluzem as suas braçadas adagas, com o ferro endurecido. Havereis de travar uma batalha como jamais se viu. Senhores franceses, que Deus vos assista! Resistam firmemente, para que não possam nos vencer!

Os franceses exclamam:

— Quem quer que fuja! Até a morte, nenhum de nós vos faltará!

  1. Parábola do Semeador – Evangelho, segundo São Mateus (exemplo de parábola)

Naquele dia Jesus saiu de casa e sentou-se à beira do mar. Juntou-se junto a ele uma multidão que subiu para sentar-se em um barco, enquanto toda a multidão permanecia na praia. E pôs-se a falar-lhes muitas coisas em parábolas, dizendo: “Eis que saiu o semeador para semear. E, lançando a semente, uma parte caiu junto ao caminho, e vieram os pássaros e a comeram. Parte caiu em terreno rochoso, onde não havia muita terra e brotou cedo por não ser profundo o solo; mas ao sair o sol, esgotou-se e se secou porque não tinha raiz. Outra parte caiu entre espinhos; cresceram os espinhos e a sufocaram. Outra, porém, caiu em boa terra e deu fruto, uma parte cem, outra sessenta e outra trinta”.

“Todo aquele que ouve a palavra do Reino e não entende, vem o maligno e arrebata o que foi semeado no seu coração: isto é o que foi semeado junto ao caminho. O que é semeado em terreno rochoso é aquele que ouve a palavra, e a recebe com alegria; mas não tem em si raiz, mas é inconstante e, ao vir uma tribulação ou perseguição por causa da palavra, logo tropeça e cai. O semeado entre espinhos é aquele que ouve a palavra, mas as preocupações deste mundo e a sedução das riquezas sufocam a palavra e fica estéril. Ao contrário, o que é semeado em boa terra é aquele que ouve a palavra e a entende, e frutifica e produz cem, sessenta ou trinta.”

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Equipo editorial, Etecé. Gênero narrativo. Enciclopédia de Exemplos, 2024. Disponível em: https://www.ejemplos.co/br/genero-narrativo/. Acesso em: 30 de outubro de 2024.

Sobre o autor

Traduzido por: Cristina Zambra

Licenciada em Letras: Português e Literaturas da Língua Portuguesa (UNIJUÍ).

Data de publicação: 3 de abril de 2024
Última edição: 30 de abril de 2024

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