As lendas antigas são relatos que transmitem histórias com certas características e que se originaram há vários séculos. Este tipo de narrativa tem uma origem incerta, porque não tem um autor e porque foram transmitidas de geração em geração e oralmente.
Este tipo de lenda era usada para explicar certos fenômenos ou eventos reais, mas sempre tinha elementos fantásticos, que poderiam ser interpretados como verdade.
As antigas lendas mostram a cosmovisão, ou seja, a forma de interpretar o mundo de uma determinada comunidade, porque em muitos casos surgiram com a finalidade de transmitir crenças, ensinamentos morais ou sentimentos de identidade ou pertença.
- Veja também: Lendas curtas
Características das lendas antigas
- Tempo. As lendas antigas narram acontecimentos, que podem ser reais ou fictícios, em um tempo histórico e real, mas muito distante.
- Espaço. O lugar dos fatos narrados quase sempre é mencionado e existe ou existia na realidade.
- Personagens. São pessoas, muitas delas são heróis ou heroínas, mas também podem haver seres fantásticos ou animais. Geralmente, há um herói ou heroína que é o centro da lenda antiga porque é contado como um personagem atinge determinados objetivos.
- Finalidade. Estas lendas eram usadas para transmitir moral, para explicar fatos ou fenômenos que não tinham uma explicação científica e para explicar a origem de certos acontecimentos ou costumes.
- Versões. Por serem tão antigas, estas lendas têm muitas versões que podem diferir entre si quanto aos fatos, personagens, entre outros.
Exemplos de lendas antigas
- Lenda do Rei Arthur
Esta lenda medieval da Inglaterra narra a vida e as diversas façanhas do Rei Arthur, embora não se saiba com certeza se este rei realmente existiu. Uma das muitas lendas que se relacionam com o suposto rei da Grã-Bretanha é a que tem a ver com a espada na rocha. De acordo com o relato, esta espada estava enterrada até a metade em um bloco de mármore e aquele que conseguisse tirá-la se tornaria rei da Grã-Bretanha. Depois de muitos homens tentarem, Arthur foi o único que conseguiu tirar a espada do mármore e se tornou rei. Este último fato é um dos muitos elementos fantásticos que há nas lendas arturianas.
Esta lenda aparece em textos medievais, como poesias, cânticos e contos épicos, da literatura inglesa, francesa e galesa. A história de Arthur foi retomada como material para produzir diferentes textos literários nos séculos XIX e XX e filmes no século XX. Estas narrativas têm elementos semelhantes, mas também têm grandes diferenças quanto a personagens e façanhas.
- Lendas em relação a El Cid
Rodrigo Díaz de Vivar, El Cid, foi um homem que existiu no século XI e foi um cavaleiro espanhol, que teve um papel fundamental na conquista de Valência. Embora existam fontes históricas que narram os eventos em que este cavalheiro participou, também começaram a surgir lendas que foram transmitidas oralmente e que modificaram alguns fatos para adaptá-los a uma cosmovisão cristã e espanhola e canonizar o Cid como herói. Por exemplo, quando se narra as batalhas em que participou o Cid, busca-se fazer ver o personagem como um homem que tinha mais coragem, honra e força do que qualquer outro.
Estas lendas aparecem em diferentes textos literários, mas o mais importante é O Cantar de Mio Cid, uma das obras mais famosas da literatura espanhola.
- A lenda de Tristão e Isolda
Esta lenda conta a história de amor entre Tristão e Isolda, dois personagens que não existiram, mas que supostamente viveram na Irlanda. O elemento fantástico que tem esta história é que os dois personagens tomaram uma poção mágica que os fez se apaixonar e que lhes permitiria se encontrar mesmo após a morte.
Por ser uma lenda, originou-se oralmente e isso deu origem a várias versões na literatura. Esta narrativa é encontrada em textos medievais franceses, alemães, ingleses e noruegueses e foi retomada no Renascimento, no Romantismo e em movimentos posteriores para produzir obras na literatura, teatro, pintura e música.
- Lenda dos vulcões
Esta é uma lenda mexicana que conta a história da ascensão dos vulcões Popocatépetl e Iztaccíhuatl, que se encontram no Vale do México, ou seja, que os acontecimentos narrados se desenrolam em um lugar real.
Esta é uma lenda de amor que tem dois personagens, Popocatépetl, um guerreiro, e Iztaccíhuatl, uma princesa, que estavam apaixonados. O guerreiro foi para uma batalha e supostamente morreu, o que fez a princesa morrer de tristeza. Mas o guerreiro voltou e, depois de ver que sua amada havia falecido, levou seu corpo para o que hoje é o Vale do México e se transformou em um vulcão. Depois ele também se transformou em um vulcão.
Esta lenda é de origem mexicana, tem muitas variações e aparece em muitas produções mexicanas posteriores.
- Lenda de Dietrich von Bern (Teodorico de Verona)
As lendas de Dietrich von Bern contam histórias sobre um rei que realmente existiu, Teodorico, o Grande, e que foi rei do reino ostrogodo da Itália entre 493 e 526. Mas nestas histórias aparecem elementos fantásticos, que são próprios das lendas, como as lutas que este personagem teve com dragões e gigantes. Estas batalhas e outros eventos imaginários têm a função de fazer com que um homem comum, embora muito poderoso, se canonize como herói.
Estas lendas têm muitas variações e aparecem na Idade Média em poemas e cânticos alemães e saxões.
- Lenda de Siegfried
A lenda de Siegfried pertence a um conjunto de lendas que aparecem tanto na tradição germânica como na nórdica. Não se sabe ao certo, mas acredita-se que este personagem é inspirado em personagens reais, como o rei da Austrásia que viveu no século VI.
Nesta lenda, narra-se a vida de Siegfried e elementos fantásticos aparecem, por exemplo, conta-se que Siegfried matou um dragão e depois se banhou no seu sangue para se tornar imortal. A história deste personagem é de tradição oral, mas aparece em diferentes textos literários medievais, os dois mais importantes são A canção dos Nibelungos e A Saga dos Volsungos.
- Lenda de Hua Mulan
Esta é uma lenda chinesa que conta a história de Hua Mulan, uma mulher que se vestiu como homem para substituir seu pai no exército e que foi uma grande guerreira.
Embora os textos escritos se referem a diferentes momentos históricos em que esta história pode ter se desenvolvido, não há um consenso sobre quando supostamente ocorreu. A primeira versão escrita desta lenda é do século VI, mas depois foram feitas outras versões que diferem entre si.
- Lenda da rainha Alamelamma
Esta lenda de origem indiana narra a maldição de Alamelamma que supostamente ocorreu no início do século XVII em Srirangapatna. Alamelamma, esposa do rei Tirumalá, ao saber que seu marido tinha sido traído e assassinado, lançou uma maldição sobre os responsáveis por sua morte, que teve como consequência uma tempestade de areia que fez desaparecer os templos onde estavam os traidores e que o rei usurpador nunca pôde ter descendentes homens.
Embora essa lenda contenha elementos fantásticos, é usada para explicar o desaparecimento de templos que realmente existiram.
- Lenda de Dazaifu Tenman-gū
Dazaifu Tenman-gū é um templo que está situado no Japão e foi construído sobre o túmulo de Michizane. Sugawara no Michizane foi um homem que realmente existiu no século IX neste país e que posteriormente se tornou um deus.
A lenda sobre o templo e o personagem não aconteceu quando ele estava vivo, mas depois de sua morte. O clã Fujiwara enviou Michizane para o exílio, que morreu e foi enterrado em uma estrada, onde construíram um santuário, que se transformou no templo Dazaifu Tenman-gū.
Segundo a lenda, após sua morte, alguns membros deste clã morreram, houve inundações, pragas e secas e acreditava-se que estes fatos foram provocados pelo espírito de Michizane como vingança. Por causa destes acontecimentos, a família real decidiu que reconheceriam o posto de Michizane para acalmar seu espírito e assim evitar outras tragédias.
- Vitória de Tivoli
Vitória era uma mulher que realmente existiu no século III e viveu em Roma. De acordo com esta narrativa, ela estava noiva de um romano, Eugene. Mas não queria se casar porque queria consagrar sua vida a Deus.
Depois de querer romper o noivado com Eugene, ele a denunciou por ser cristã e Vitória foi assassinada. O fato fantástico acontece depois que ela morreu: Eugene contraiu lepra e morreu seis dias depois por causa desta doença e porque os vermes o devoraram.
Como todas as lendas, há várias versões. Hoje, Vitória é considerada santa na religião católica.
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