As lendas argentinas são relatos orais ou escritos que narram histórias inventadas, que podem ter algum componente real, e que são transmitidas na Argentina. Estas narrativas sempre incluem personagens ou acontecimentos fantásticos.
Existem lendas argentinas antigas, que são em sua maioria de povos originários. Mas também há lendas contemporâneas ou urbanas, isto é, que se originaram recentemente e costumam fazer referência a crenças que têm no presente determinadas comunidades.
Estas lendas são semelhantes às lendas tradicionais, porque são transmitidas de geração em geração, porque têm mais de uma versão e porque são anônimas. Mas se diferem das lendas clássicas pelos personagens, pela finalidade, pela relação com o tempo e espaço, entre outros.
- Veja também: Lendas antigas
Características das lendas argentinas
- Personagens. Podem ser pessoas, espíritos, animais e seres da imaginação e sempre se relacionam com elementos conhecidos pela comunidade.
- Lugar. Os lugares onde as lendas acontecem são nomeados, mas, ao contrário das lendas tradicionais, podem não serem especificamente nomeados e serem mais gerais, por exemplo, é narrado algo que acontece no campo.
- Tempo. Em muitas dessas lendas não se especifica quando os fatos aconteceram, mas sim explica a existência de certos personagens no presente.
- Feito. Nem sempre se narram coisas que aconteceram, pois em alguns casos é mencionado que em certos lugares há seres fantásticos ou que acontecem coisas sem explicação científica.
- Verossimilhança. Apesar de terem elementos de imaginação, as lendas sempre têm que ser críveis. Muitas pessoas acreditam que o que é mencionado na lenda existe ou existiu de verdade.
- Cosmovisão. Estas lendas, como todas, refletem características geográficas, históricas ou políticas; a identidade e o modo de pensar do povo deste país.
- Finalidade. O objetivo destas lendas pode ser transmitir um ensinamento, mas em alguns casos são apenas uma explicação alternativa de um fenômeno científico ou uma invenção de certos acontecimentos.
Exemplos de lendas argentinas
- Lenda do Caá Porá
De acordo com a lenda, o Caá Porá é um monstro gigante e peludo que vive na mata e ataca os caçadores ou rouba as presas destes homens para comê-las. Há também outras versões desta lenda que dizem que o Caá Porá se transforma em porco ou cão e lança fogo pela boca para assustar outros animais.
Esta lenda é bem conhecida no norte da Argentina, especialmente na província de Misiones e é conhecida em outras regiões como a lenda do fantasma do monte.
- Lenda do Lobisomemn
Esta lenda explica que o sétimo filho de cada família se transforma em lobisomem nas terças e sextas-feiras de lua cheia. O lobisomem vagueia pela noite até o amanhecer, quando volta a se transformar em homem e se alimenta de cadáveres que encontra nos cemitérios.
Esta lenda tem muitas variações, por exemplo, em algumas é dito que o Lobisomem sempre está acompanhado de cães ou que pode transformar outras pessoas em lobisomem.
- Lenda da luz ruim
De acordo com esta lenda, a luz ruim é a luz branca ou verde clara que projeta um espírito e aparece no campo à noite. Mas, acredita-se que a luz que se vê não é mais do que o reflexo da lua nos ossos de animais mortos.
Há outras versões desta lenda que explicam que estes espíritos estão lá para cuidar de tesouros ou coisas de grande valor que foram enterradas. Estas lendas são contadas no campo.
- O Pombero ou Pomberito
Esta lenda circula principalmente no norte da Argentina. O Pomberito é um duende ou um pequeno ser que cuida das florestas, das selvas, dos montes e dos animais que vivem nesses lugares. O Pomberito ajuda as pessoas que lhe deixam oferendas, porque cuida de sua casa e de seu gado, mas pode incomodar ou fazer piadas fortes às pessoas que falam mal dele.
Há muitas versões desta lenda. Por exemplo, diz-se que o Pombero pode confundir ou ajudar os caçadores e pescadores, depende se os homens são amigos ou inimigos deste ser.
- Lenda do calafate
Esta lenda pertence aos tehuelches, um povo nativo que habita no sul da Argentina, e o calafate é uma fruta característica deste lugar. De acordo com a lenda, os tehuelches migravam para obter comida, mas em uma destas viagens, Koonex, uma velha curandeira, não podia continuar andando e decidiu parar e sentar-se para morrer ali. Seus companheiros de viagem prepararam um toldo e uma fogueira e deixaram comida.
Depois de muitos dias chegou a primavera e alguns pássaros pousaram no toldo e ouviram que a velha fazia repreensões por a terem deixado sozinha. Um dos pássaros respondeu que eles tinham ido embora porque quando havia baixas temperaturas não tinham nada para comer. A velha senhora respondeu que ela daria um alimento que cresce no outono e inverno e, de repente, apareceu um arbusto, o pé de calafate, em vez da velha.
- Lenda do Futre
Esta lenda circula e tem origem em Mendoza, uma província que se encontra no oeste da Argentina e é do início do século passado. Na época, um caminho de ferro estava sendo construído e havia um homem que pagava os trabalhadores do trem e que, segundo a lenda, foi morto quando o dinheiro foi roubado. Diz-se que o espírito deste homem aparece nas montanhas de Mendoza e pergunta pelo dinheiro roubado.
Supõe-se que este homem realmente existiu e que no presente está enterrado em um cemitério de uma localidade mendocina.
- Lenda da nativa Mariana
Esta lenda supostamente se passa em San Juan, uma província que fica no oeste da Argentina. Diz a lenda que Mariana, uma mulher de um dos povos originários desta região, costumava vender pepitas de ouro e que sempre estava debaixo de uma árvore fumando um charuto e que era acompanhada por seu cão.
Diz-se que uma vez alguns homens tentaram roubar o ouro dela, mas seu cão saiu para defendê-la e da árvore ouviu um riso arrepiante, e os homens saíram correndo. Desde que isso aconteceu, ninguém viu Mariana novamente.
Na lenda também é mencionado que Mariana extraía o ouro de um “pocinho”, que nunca ninguém encontrou, mas é por esta lenda que há um departamento em San Juan que se chama “Pocito” (pocinho em português).
- A lenda da cidade desaparecida de Esteco de Salta
Salta é uma província argentina onde existia uma cidade chamada Esteco. Esta cidade foi fundada em 1609, era um lugar muito rico e se diz que seus habitantes eram muito gananciosos.
Segundo a lenda, um dia um velho começou a andar pela cidade e dizia aos habitantes que tinham de mudar seu comportamento ou a cidade desapareceria. Ninguém deu importância e assim a cidade realmente desapareceu. Mas, também se diz que a cidade desapareceu por um terremoto ou por uma briga com habitantes de outra cidade.
- Lenda do joão-de-barro
O joão-de-barro é um pássaro muito conhecido na Argentina porque faz um ninho de barro que é semelhante a uma cova. Esta lenda descreve a origem deste pássaro. A história se passa muito tempo atrás e se supõe que um homem e uma mulher de um povo nativo se casariam. Eles eram oleiros e estavam muito apaixonados, mas o feiticeiro da tribo disse que se eles se casassem, grandes desgraças cairiam sobre todos. Foi por isso que o cacique decidiu suspender a união dos dois jovens.
O casal fugiu para a floresta, mas outros membros da tribo os encontraram e os mataram. Mas, segundo a lenda, não morreram, mas se transformaram em um casal de joão-de-barro e se supõe que, como eram um casal de oleiros, souberam construir um ninho de barro perfeito.
- Lenda da Dama de Branco do Cemitério da Recoleta
Um dos personagens dessa história realmente existiu, era uma jovem chamada Luz Maria, cujo túmulo está no cemitério da Recoleta (em Buenos Aires, capital). Segundo a lenda, um jovem viu uma mulher de branco perto do cemitério e convidou-a para tomar café. Eles conversaram, depois se beijaram e ela disse ao jovem que se chamava Luz Maria.
De repente, ela disse que tinha que ir porque era tarde e quando estava se levantando da mesa, jogou o café e manchou a jaqueta do jovem. Ele saiu correndo atrás dela e viu como Maria Luz entrava no cemitério através das grades da porta. Ele, desesperado, começou a pedir para que o deixassem passar, o zelador do cemitério abriu a porta, o jovem entrou e viu que seu casaco estava pendurado em uma tumba que pertencia a uma mulher chamada Luz Maria.
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