Uma lenda é uma narrativa popular de tradição oral que conta fatos naturais ou sobrenaturais, que costumam se combinar com elementos fantásticos ou maravilhosos e se transmite de geração em geração numa cultura determinada. Por exemplo: a lenda do Chorão, a lenda do Lobisomem, a lenda do Saci pererê.
As lendas geralmente se localizam em um tempo e um espaço reconhecível pelos membros da comunidade onde circulam. O fato de que as histórias acontecem em um mundo que é familiar traz verdade e credibilidade aos relatos. Além disso, elas geralmente têm um núcleo de origem histórica ou explicam certas características de algum elemento da natureza.
Atualmente, conhecemos as lendas de diversas culturas, inclusive de civilizações muito distantes em tempo e espaço em relação a nossa, já que com a aparição da escrita, a transmissão deixou de ser oral e as histórias começaram a ser registradas por escrito. Ainda hoje muitas lendas são reproduzidas no cinema e na televisão. Por exemplo: a lenda do Robin Hood.
- Veja também: Exemplos de textos narrativos
Características das lendas
As lendas geralmente têm as seguintes características:
- Originam-se a partir de um fato da realidade, seja um elemento da natureza, um acontecimento ou um personagem histórico, que se expande com elementos ficcionais ou sobrenaturais.
- Surgem numa determinada comunidade e estão muitas vezes circunscritas a ela, porque fazem parte da sua cultura e identidade.
- São relatos tradicionais e anônimos, que se transmitem oralmente de geração em geração.
- Situam-se num tempo e lugar determinados, que são reconhecíveis pelo público a que se dirigem.
- Têm uma finalidade didática ou de entretenimento, já que tentam dar uma explicação para um fenômeno ou acontecimento.
- Geralmente têm uma extensão relativamente curta, devido à sua origem de transmissão oral.
- Em certas comunidades, podem ser consideradas histórias verídicas.
- Existem diferentes tipos de lendas: históricas, escatológicas, religiosas, infantis, morais, urbanas, rurais, de terror, entre outras.
- Podem existir diferentes versões de uma mesma lenda, já que no processo de transmissão oral são frequentemente introduzidas modificações que dependem do contexto e do narrador ou narradora.
Atenção: Muitas vezes as lendas são confundidas com mitos, pois ambos são expressões coletivas de certas crenças de uma civilização que combinam elementos da realidade com outros fantásticos. No entanto, há alguns aspectos essenciais dos mitos que os diferenciam das lendas:
- Tema: Explicam algo fundamental da existência: a origem do mundo ou acontecimentos extraordinários vinculados aos deuses e seres sobrenaturais.
- Tempo: Acontecem em um tempo não histórico, ou seja, fora da temporalidade humana.
- Espaço: Geralmente desenvolvem-se em locais desconhecidos pelos receptores.
- Objetivo: Têm uma finalidade religiosa ou sagrada.
- Alcance: Têm um caráter universal ou pretendem ter.
- Evolução: Geralmente são narrativas fechadas que não apresentam variações com o passar do tempo.
Exemplos de lendas curtas
- A lenda do Chorão
O Chorão é uma árvore de tamanho médio a grande porte que pode alcançar mais de vinte metros de altura. É de crescimento rápido mas tem uma curta longevidade. É caducifólia, uma vez que perde as folhas no inverno ainda que, por vezes, as mesmas se mantenham na árvore até irromperem as novas.
É muito pouco exigente com os solos, que apenas devem ter água suficiente, pelo que se dá muito bem em terrenos muito úmidos, sendo capaz de saneá-los absorvendo a água em excesso. O seu tronco é revestido com uma espécie de cortiça escura que vai rompendo com os anos.
Noutros tempos era o chorão uma majestosa árvore levantando nos ares a bela e finíssima ramagem. Orgulhoso do seu extraordinário crescimento protestou que havia de chegar ao céu e Deus, em castigo da ousadia, condenou-o a não poder erguer para o céu os ramos, pois quanto mais crescessem mais haviam de virar para o solo.
- A lenda do Minhocão
No estado de Sergipe e em toda a região do nordeste brasileiro a lenda do Minhocão é muito conhecida.
Segundo a crença popular, o minhocão é uma cobra gigantesca que vive no Rio São Francisco e se move por baixo da terra. Seja nas águas ou em terra firme, a cobra causa estrago por onde passa, pois provoca desmoronamentos, abre grutas enormes e oferece risco de naufrágio aos pescadores e embarcações da região.
- A lenda da mula sem cabeça
A lenda da mula sem cabeça tem origem europeia e foi trazida ao Brasil pelos portugueses durante a colonização. Acredita-se que ela fazia parte de um esforço para reforçar os valores morais da época.
A mula sem cabeça é uma mula marrom que, em lugar da cabeça, tem uma tocha de fogo. Segundo a lenda, ela corre em disparada pelas matas e relincha tão alto que se ouve a muitos metros de distância.
No folclore, a mula sem cabeça é uma figura amaldiçoada, em forma de punição a mulheres que se relacionassem com padres. A lenda tradicional diz que a mulher com essa maldição se transforma em mula na passagem da quinta-feira para a sexta-feira e só retorna à sua forma humana quando o galo canta três vezes. Enquanto está na forma de mula sem cabeça, ela tem um relincho que é confundido com um lamento de dor.
- A lenda do lobisomem
A lenda do lobisomem tem sua origem na mitologia guaraní.
O lobisomem é o sétimo filho homem de um casal, que nas noites de lua cheia, às sextas e terças-feiras, transforma-se num ser similar a um cachorro grande e preto, com enormes cascos. Seu cheiro é nauseante e seu aspecto é horrível e atemorizante.
Uma vez transformado, o lobisomem ataca galinheiros e ronda os cemitérios buscando carniça para alimentar-se. Segundo algumas versões, também rouba meninos e meninas ou devora homens e mulheres. Quando amanhece novamente, ele retorna à sua forma humana completamente extenuado.
- Lenda do Robin Hood
Robin Hood é um personagem do folclore inglês medieval, inspirado em uma pessoa real, provavelmente Ghino di Tacco, foragido italiano. Embora, como todas as lendas, a sua história tenha sido originalmente transmitida oralmente, há referências escritas de Robin Hood desde 1377.
Segundo a lenda, Robin Hood era um rebelde que defendia os pobres e desafiava o poder. Escondia-se no bosque de Sherwood, perto da cidade de Nottingham e se caracterizava por sua destreza como arqueiro. É conhecido também como “o príncipe dos ladrões”, pois roubava dos ricos para dar aos pobres.
- Lenda do monstro do lago Ness
Esta lenda conta que no lago Ness, na Escócia, habita um ser lendário que a cada tanto se avista da beira do lago: Nessie. Embora a ciência afirme que uma besta com as características descritas pelas testemunhas é muito improvável que exista, há registros de seu avistamento desde o século VI. Desde esse momento e ao longo dos séculos, a lenda deste monstro foi crescendo a tal ponto que gerou grandes coberturas por parte de diversos meios de comunicação de massa.
Esta é uma das lendas mais populares do mundo e atrai um grande número de turistas por ano para a cidade de Inverness, na Escócia.
- A lenda do saci-pererê
A lenda do saci-pererê fala sobre um ser mítico, baixinho, negro e com uma perna só, que vive pulando rapidamente pelas floresta com seu capuz vermelho.
O saci é muito brincalhão, agitado e travesso. Sempre faz travessuras por onde passa: gosta de bagunçar a crina dos cavalos durante a noite, dando nós e fazendo tranças. Esses são sinais de que o saci passou por ali.
Ele também tem o costume de entrar nas casas para pregar peças nas pessoas. Pode queimar as comidas que estão no fogão, ou fazer objetos desaparecerem. Às vezes até apaga velas e luzes.
- A lenda da cuca
A cuca é conhecida popularmente como uma bruxa velha e feia, que tem cabeça de jacaré e que rouba as crianças desobedientes. Essa personagem do folclore brasileiro se originou através de outra lenda: a coca, um dragão comedor de crianças desobedientes que fica à espreita nos telhados das casas, uma tradição trazida para o Brasil pelos portugueses.
Diz a lenda que a cuca rouba as crianças que desobedecem seus pais. Ela só dorme uma noite a cada 7 anos, então os pais usam a lenda para dizer às crianças que se elas não dormirem na hora certa, a cuca virá para pegá-las.
A cuca ficou ainda mais famosa ao aparecer como personagem nos livros do Sítio do Picapau Amarelo de Monteiro Lobato e na série de televisão inspirada nas obras.
- A lenda da vitória-régia
A lenda vitória-régia é bastante conhecida na região norte do Brasil e conta a história de Naiá: uma menina que desejava muito se aproximar da lua, que também é chamada de Jaci por alguns povos indígenas.
Certa noite Naiá viu o reflexo da lua nas águas do rio e pensou que Jaci estava se banhando. Decidida a se aproximar da lua, a jovem mergulhou no rio e desapareceu. Foi então que Jaci decidiu transformar Naiá em uma bela flor chamada estrela das águas, pois sabia da admiração que a jovem tinha por ela.
Dessa forma, nasceu a vitória-régia, uma planta aquática que possui uma das flores mais belas do mundo e é capaz de atingir até dois metros e meio de diâmetro com suas folhas circulares.
- A lenda do Édipo Rei
De acordo com a história, Édipo estava destinado a matar seu pai, o rei de Tebas, e se casar com sua própria mãe. Avisado pelo oráculo, é abandonado por seu pai ainda bebê, que é criado pelo rei de Corinto como seu próprio filho.
Anos depois, Édipo também consulta o oráculo e tem conhecimento dessa revelação, o que o faz fugir. Na sua fuga, encontra, sem saber, seu pai verdadeiro e o mata num conflito. Chega à Tebas, onde consegue salvar o povo do terror causado pela Esfinge e como prêmio é nomeado rei, casando-se com a viúva do homem que tinha matado, a sua mãe.
- A lenda do Negrinho do Pastoreio
O Negrinho do Pastoreio é um personagem do folclore brasileiro conhecido na região sul do Brasil. De origem africana e cristã, a lenda surgiu em meados do século XIX e conta a história de um menino escravo que recebeu um milagre de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, por ser um inocente que sofre com castigos de um fazendeiro.
Como boa parte das histórias populares, apresenta várias versões. Uma delas conta que o Negrinho, ao perder uma corrida apostada pelo estanceiro, recebeu um castigo: ficar pastoreando durante trinta dias uma tropilha de 30 tordilhos negros. Por duas vezes os cavalos se dispersaram, mas, após acender uma vela para Nossa Senhora, o Negrinho reencontrou os cavalos perdidos. Ele é considerado santo das causas perdidas. Por isso, conforme a tradição popular, quem perde algo e tem dificuldade de encontrar acende uma vela e pede ajuda ao Negrinho para encontrar o que perdeu.
- A lenda do boto-cor-de-rosa
A lenda do boto-cor-de-rosa teve origem na região amazônica, onde vive essa espécie típica do Brasil. Segundo a cultura popular, o boto sai dos rios e se transforma em um jovem belo e elegante nas noites de lua cheia. Normalmente ele aparece nas festividades de junho e frequenta as Festas Juninas da região.
O boto se veste de branco e usa um grande chapéu para esconder suas narinas, pois sua transformação não ocorre por completo. Galã e conquistador, o boto escolhe uma moça solteira da festa e a leva para o fundo do rio. Na manhã seguinte ele se transforma em boto novamente, por isso a lenda do boto é utilizada muitas vezes para explicar uma gravidez fora do casamento.
- A lenda do Pai-do-Mato
Muito conhecida no estado de Goiás, na região centro-oeste do país, a lenda do Pai-do-Mato conta a história de um ser folclórico que protege os animais.
O Pai-do-Mato é meio homem e meio bicho, pois possui cabelos longos, unhas grandes, dentes afiados e patas de bode. Mesmo com a aparência diferente, o Pai-do-Mato é conhecido como um ser que cuida dos animais e ataca somente as pessoas que querem fazer mal aos bichos que vivem na floresta.
Todas as noites ele sai pelas matas montado em seu porco-do-mato para conferir se todos os animais estão em segurança.
- A lenda da sereia Iara
A história da Iara, também conhecida como lenda da Mãe d’Água, é outro exemplo de lenda do folclore com origem indígena. Iara ou Yara, do indígena Iuara, significa “aquela que mora nas águas”. Ela é metade peixe e metade mulher: da cintura para baixo tem uma cauda de peixe, e da cintura para cima tem o corpo de mulher.
A linda sereia costuma tomar banho nos rios e cantar uma melodia irresistível. Os homens que a veem não conseguem resistir ao seu encanto e pulam dentro do rio. Ela tem o poder de cegar quem a admira e levar os homens atraídos por ela para o fundo do rio.
Segundo a lenda, Iara era uma jovem guerreira, trabalhadora e corajosa. Recebia muitos elogios do seu pai que era pajé, e consequentemente despertava a inveja de alguns da tribo, especialmente de seus irmãos homens.
- A lenda do joão-de-barro
A lenda do joão-de-barro, que tem origem na Região Sul, revela a origem dessa espécie de ave, conhecida pelo ninho que faz parecido com um forno de barro.
Segundo a lenda, um jovem pediu a mão da garota mais bonita da tribo em casamento. O pai da moça exigiu uma prova do amor do rapaz, ao que ele disse que ficaria nove dias em jejum.
Assim, para impedir que o jovem comesse ou bebesse, ele foi amarrado num couro, tendo sido desenrolado nove dias depois.
Todas as pessoas da tribu pensavam que o encontrariam morto, mas ao retirar o couro, o jovem saiu a cantar para a sua amada e se transformou num pássaro. O mesmo aconteceu com a garota que, juntos e felizes, construíram uma bela casa para viver.
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