As lendas rurais são aquelas narrativas que incluem eventos fantásticos que ocorrem no campo, na floresta, na selva ou em áreas pouco habitadas.
As lendas são histórias populares e anônimas de transmissão oral que se originaram para explicar vários fenômenos, responder a preocupações, transmitir ensinamentos ou entreter.
Apesar de as lendas rurais incluírem seres, eventos ou lugares maravilhosos ou extraordinários, elas geralmente mencionam lugares, datas ou personagens que existem ou existiram na realidade. Além disso, para muitas pessoas, estas histórias são verdadeiras porque transmitem informações relacionadas a tradições e crenças populares.
As lendas rurais podem ser antigas ou modernas e diferem das lendas urbanas nos cenários em que as histórias ocorrem e nos locais onde se originam e onde circulam.
- Veja também: Lendas infantis
Características das lendas rurais
- Temas. Os temas das lendas rurais são muito diversos, por exemplo, a existência de seres fantásticos, e geralmente têm um tom aterrorizante.
- Personagens. As personagens das lendas rurais são pessoas comuns que geralmente vivem no campo e seres fantásticos relacionados ao folclore do lugar, como demônios e duendes.
- Lugares. Os lugares onde as lendas rurais se passam são o campo, a floresta, a selva ou lugares pouco habitados.
- Tempo. As lendas rurais podem se referir à época em que os eventos ocorrem ou explicar por que certos fenômenos ocorrem no presente.
- Cosmovisão. As lendas rurais refletem as crenças e o modo de pensar da comunidade em que se originaram.
- Finalidade. As lendas rurais podem ter diferentes propósitos, como transmitir moral, assustar, entreter ou ensinar aspectos importantes da vida cotidiana.
Exemplos de lendas rurais
- A lenda da luz má
Esta é uma lenda rural da Argentina e do Uruguai. Diz-se que, à noite, no campo, um espírito pode aparecer na forma de uma luz branca ou verde. Acredita-se que este fantasma é uma alma penada e que é necessário rezar ou morder a bainha de uma faca para evitar a perseguição deste ser.
Além disso, recomenda-se não retornar ao local onde a luz apareceu durante o dia ou cavar um poço próximo à área. Entretanto, há outras versões dessa lenda, nas quais se afirma que a luz é de fato boa, pois indica que há tesouros debaixo dela.
- A lenda da Telésfora
Esta lenda rural narra fatos que supostamente ocorreram em Santiago del Estero, Argentina. Conta-se que uma jovem chamada Telésfora Castillo era muito pobre e costumava vagar pelo campo em busca de comida.
Em uma noite de inverno, Telésfora viu uma fogueira e foi se aquecer, mas o fogo atingiu uma grande parte da floresta e, infelizmente, ela morreu no incêndio. No dia seguinte, os aldeões encontraram seu corpo e ficaram muito tristes.
Acredita-se que o espírito de Telesita vagueia pelos campos e florestas, mas sempre com boas intenções, pois ela ajuda todos os que estão perdidos ou precisam de comida.
- A lenda do menino horticultor
Esta lenda fala de fatos que supostamente ocorreram no México. Esta lenda fala de fatos que supostamente ocorreram no México. Conta-se que em uma casa de campo nasceu um bebê que não queria ser alimentado com leite. A mulher viu a criança, notou que ela tinha a marca de um maguey* na barriga e lhes disse que tinham de alimentar o menino com pulque** até que ele completasse sete anos de idade.
Quando o menino completou sete anos, a curandeira voltou para vê-lo e disse aos pais que o menino tinha uma marca de morango nas costas e que só poderia comer esta fruta. Mas ela também notou que o menino tinha o desenho de um milho em seu braço esquerdo e o desenho de uma abóbora em seu braço direito. A mulher achou que essas manchas eram um bom presságio.
Quando o menino cresceu, muitos milagres aconteceram, pois se ele passasse por um campo, árvores frutíferas e colheitas abundantes apareceriam.
*o maguey é um tipo de planta.
**O pulque é uma bebida fermentada feita a partir do maguey.
- A lenda do lobisomem
Esta é uma lenda guarani que circula no Paraguai, Argentina, Uruguai e Brasil. Diz-se que há uma maldição que afeta os sétimos filhos. Quando chegam à adolescência, nas noites de terça e sexta-feira, estes jovens se transformam em um lobisomem e vagam pelo campo para se alimentar de cadáveres. Mas assim que o sol nasce, estas feras recuperam sua aparência humana.
Além disso, acredita-se que o lobisomem pode transformar outras pessoas em monstros, que eles são guardiões das florestas e de outros animais, que punem aqueles que cometem crimes e que podem ser afugentados rezando o Pai Nosso ou fazendo o sinal da cruz.
- A lenda do Karai Pyhare
A lenda do Karai Pyhare (senhor da noite), o Pombeirinho, o Kuarahy Jára ou o Chopombé circula no Paraguai, Argentina, Uruguai, Brasil e Bolívia. Acredita-se que este ser tenha uma aparência semelhante à de um duende, sendo baixo e muito peludo, e que muitas vezes é travesso e pode atacar as pessoas.
O Karai Pyhare é o guardião dos campos, florestas e animais e, portanto, pode incomodar ou desorientar caçadores, pescadores e lenhadores. Também é conhecido por fazer brincadeiras com as pessoas que o chamam à noite ou com aquelas que falam mal dele.
Diz-se que, se alguém vir o Karai Pyhare, deve lhe oferecer comida, tabaco, mel ou cana para evitar um ataque da criatura.
- A lenda da boneca de pano
Esta lenda mexicana fala de uma crença popular nas áreas rurais. Acredita-se que um dia, às onze horas da noite, uma boneca de pano ganhou vida e foi morar no topo de uma árvore.
Diz-se que a cada quinze dias, às onze horas da noite, em alguns lugares, ouve-se uma canção assobiada, mas que não se deve ir ao local de onde vem a melodia, porque quem a produz é a boneca de pano, um ser maligno que ataca aqueles que ousam se aproximar.
- A lenda do Campo de Carabobo
Esta é uma lenda venezuelana que narra eventos que supostamente ocorreram no Campo de Carabobo, o local da Batalha de Carabobo em 1821. Este evento foi de suma importância, pois foi a batalha em que Simón Bolívar e suas tropas derrotaram o exército espanhol e conquistaram a independência da Venezuela.
Muitas pessoas afirmam que nas noites de lua cheia perto do Arco do Triunfo de Carabobo, o monumento que comemora o confronto, os espíritos dos dois exércitos podem ser vistos lutando.
- A lenda de Paterrato
Esta lenda colombiana conta a história de uma personagem maligna. Conta-se que, há muito tempo, havia um homem que roubava grãos e animais de outros campos e estava sempre querendo brigar com as pessoas do vilarejo.
Um dia, ele brigou com um camponês e recebeu um forte golpe em uma das pernas. Como não sabia para onde ir, escondeu-se em uma caverna até se sentir melhor, mas sua perna não melhorou, mas começou a apodrecer. Passaram-se alguns dias e este homem se transformou em um monstro, conhecido como Paterrato.
Acredita-se que se este ser pisar uma plantação, todas as plantas apodrecem e que vê-lo é um sinal de mau agouro, pois sua presença pode anunciar a morte de um ente querido ou outros infortúnios.
- A lenda da sogra do demônio
Esta lenda circula no México. Conta-se que, no início do século XIX, em Santa Rita, uma camponesa, Esperanza, estava muito preocupada porque sua filha, Francisca, não conseguia encontrar um marido. A mãe rezava todos os dias para que sua filha encontrasse um homem que quisesse se casar com ela, mas nunca obtinha resposta. Um dia, em desespero, invocou o demônio e pediu o mesmo aos deuses e santos cristãos.
Algumas horas depois, um homem bateu à porta da casa da mulher e disse à mãe:
— Posso descansar na varanda?
— Sim, sem problemas. — Respondeu ela.
Algumas horas depois, o homem misterioso foi embora. Ele voltou três dias depois, vestido de preto, montado em seu cavalo frísio, e pediu Esperanza em casamento:
— Gostaria de pedir a mão de sua filha. Meu nome é Narciso Vargas e tenho muitas riquezas. Daqui a três dias virei casar-me com a senhora.
A mãe não sabia o que responder e então contou à filha tudo o que havia acontecido, mas a jovem não ficou assustada, e sim feliz. Passaram-se três dias, Narciso apareceu em casa e Francisca o acompanhou para se casar. Entretanto, ao chegarem à capela da aldeia, não encontraram nenhum padre para realizar a cerimônia, então partiram para a terra dele.
Quando a jovem entrou na casa de Narciso, sentiu um calafrio e um pouco de medo. No entanto, concordou em ficar lá até que pudessem se casar.
Alguns dias depois, Francisca foi visitar sua mãe e lhe contou:
— Narciso é muito bom para mim, mas acontecem coisas muito estranhas na casa. Além disso, à noite, ele tem uma voz estranha e emite muito calor.
— Ah, minha filha, que desgraça! Acho que ele é o próprio demônio. — Exclamou a mãe preocupada. — Mas não se preocupe, vou tirá-la dessa.
Ao anoitecer, Narciso foi buscar sua noiva. A mãe o recebeu e lhe disse:
— Narciso, você acredita que o diabo realmente existe? Porque eu acho que não. E se existe, acho que ele não deve ser muito inteligente.
— Senhora, o demônio existe sim. Além disso, a senhora está falando com ele. — Respondeu Narciso.
— Não acredito. — insistiu ela e depois começou a dar gargalhadas. — Se você é mesmo o diabo, desafio-o a sentar-se sobre as brasas da lareira.
Narciso deu uma pirueta, sentou-se sobre as brasas e ficou lá sem se queimar.
— Não acredito. Isso é muito fácil. Se ele realmente é o demônio, deve entrar nesta garrafinha e dormir. — disse a mãe.
— Este truque é muito simples. — disse ele.
O demônio ficou bem pequeno, entrou na garrafa e adormeceu. Esperanza a tampou com uma rolha e a cobriu com um cobertor embebido em água benta.
As duas mulheres saíram de casa, cavaram um buraco fundo e enterraram a garrafa. Quando o demônio acordou, começou a xingar, pois não sabia como escapar da armadilha. Por este motivo, muitas pessoas dizem que nos campos de Santa Rita ouvem os gritos de um homem ou do senhor das trevas.
- A lenda da vala de Zancona
Esta lenda mexicana narra eventos que supostamente ocorreram em um vilarejo em Cañadas de Obregón. Os camponeses viviam naquele lugar e, como não havia iluminação pública, todos iam para casa antes de escurecer.
Certo dia, já eram dez horas da noite e Antônio não havia retornado dos campos. Os moradores ouviram um grito seguido do galope de um cavalo e alguns ficaram em suas casas, mas outros saíram para ver o que estava acontecendo.
Os ruídos estavam vindo da igreja, então os homens foram até lá. Quando chegaram, viram que Antônio estava batendo na porta da igreja e gritando por socorro. Os vizinhos o acalmaram e perguntaram o que havia acontecido. O camponês respondeu que havia se perdido na floresta quando estava pastoreando suas vacas, que uma mulher vestida de preto e muito assustadora havia aparecido na vala da zancona e que ela havia fugido.
No dia seguinte, os homens da aldeia foram até a vala para descobrir quem era a mulher. Fizeram uma fogueira, que se acendeu repentinamente ao cair da noite e, alguns minutos depois, um ser com um véu preto apareceu flutuando na água. Ficaram todos muito assustados, mas um homem corajoso teve a ousadia de perguntar ao espectro:
— Quem é você e o que quer?
Eu sou um espírito e estou procurando minha família há muito tempo. Mas não estou aqui para incomodá-los. — disse a mulher e saiu.
Os camponeses voltaram para suas casas um pouco mais calmos, pois sabiam que aquele era um espírito bom.
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