25 Exemplos de
Poesia

A poesia é um gênero literário caracterizado pela expressão de um sentimento, uma ideia, conceito ou uma história através de uma linguagem utilizada com fins estéticos. Pode ser escrita em verso ou prosa, e muitas vezes usa recursos literários para ganhar expressividade ou beleza. Por exemplo:

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

Luís Vaz de Camões, Amor é fogo que arde sem se ver

Muitos poemas são escritos de acordo com regras muito específicas de metro e rima. Na poesia mais clássica, as rimas são frequentemente usadas, ou seja, a reiteração de sons em uma ou mais sílabas acentuada em dois ou mais versos. Por sua vez, os versos são geralmente agrupados em estrofes.

Algumas culturas antigas criaram seus próprios estilos poéticos particulares, geralmente com poemas escritos em verso e com métrica e rimas fixas (por exemplo, os sonetos). No entanto, a partir das vanguardas do início do século XX, o verso livre (ou seja, sem rima e métrica pré-estabelecidas) começou a ser usado, e seu uso ainda é muito frequente na poesia moderna. Por exemplo:

Porque foram desmascarados os poetas
e seus símbolos de violentas raízes tortas
solvidas em infusões para bebedores místicos.
Porque um dia, junto de filósofos,
também lamentei que não há “evolução” no teor
das coisas, pois que tudo está sempre a repetir-se
lindamente, como uma juventude excepcional:
um menino ternamente mongoloide

Marcello Sorrentino, Um pequeno sistema de incerteza, 2006

Para considerar: Tradicionalmente, chama-se poesia cada um dos gêneros em que as obras literárias são classificadas. Assim, três gêneros principais foram diferenciados:

  • Poesia lírica. Expressa os sentimentos ou emoções do poeta, e sua forma habitual é o poema.
  • Poesia épica. Narra eventos lendários, como as façanhas de heróis, de um ponto de vista externo que pretende ser objetivo.
  • Poesia dramática. Narra uma história ou conflito através da interação dialógica dos personagens, e seu propósito é a representação diante de um público espectador.

Atualmente, o termo “poesia” é usado para se referir especificamente à poesia lírica.

Características da poesia

A poesia geralmente tem as seguintes características:

  • É a expressão da subjetividade do poeta, que se manifesta através de um eu lírico, ou seja, a voz que fala no poema.
  • Pode ser escrita em verso ou em prosa.
  • Normalmente tem ritmo e muitas vezes rima.
  • A função poética da linguagem predomina, ou seja, aquela que se concentra na forma da mensagem e é usada para produzir um efeito estético.
  • Pode tratar de qualquer assunto que seja digno da atenção do poeta.
  • Tende a usar linguagem conotativa, ou seja, palavras com sentido figurativo.
  • Pode utilizar certas licenças poéticas em termos de sintaxe e gramática, ou seja, alterações às normas tradicionais.
  • Costuma apresentar uma variedade de recursos literários e figuras de linguagem, entre elas: metáforas, comparações, símiles, anáforas, metonímias, aliterações, hipérboles, personificações.
  • É um dos gêneros com maior liberdade criativa, já que pode ser adaptado quase que inteiramente às necessidades expressivas do poeta.

Atenção: Os termos “poesia” e “poema” são frequentemente usados como sinônimos, embora, a rigor, não signifiquem a mesma coisa. O substantivo “poesia” refere-se tanto ao gênero literário quanto às composições poéticas, enquanto que o termo “poema” se refere apenas ao conteúdo dos textos. Para evitar mal-entendidos, recomenda-se utilizar “poesia” somente para o gênero e “poema” para os textos poéticos.

Exemplos de poesia

  1. Retrato, de Cecília Meireles

Eu não tinha este rosto de hoje,
Assim calmo, assim triste, assim magro,
Nem estes olhos tão vazios,
Nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
Tão paradas e frias e mortas;
Eu não tinha este coração
Que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
Tão simples, tão certa, tão fácil:
— Em que espelho ficou perdida
a minha face?

  1. Fragmento, de Adélia Prado

Bem-aventurado o que pressentiu
quando a manhã começou:
não vai ser diferente da noite.
Prolongados permanecerão o corpo sem pouso,
o pensamento dividido entre deitar-se primeiro
à esquerda ou à direita
e mesmo assim anunciou o paciente ao meio-dia:
algumas horas e já anoitece, o mormaço abranda,
um vento bom entra nessa janela.

  1. Bilhete, de Mário Quintana

Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
Que a vida é breve, e o amor mais breve ainda…

  1. IX – Sou um guardador de rebanhos, de Alberto Caeiro (heterônimo de Fernando Pessoa)

Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca. Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.
Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto.
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz.

  1. A Lua, de Jorge Luis Borges (Tradução: Fernando Pinto do Amaral)

Para Maria Kodama
Há tanta solidão naquele ouro.
Lua destas noites é igual
À do primeiro Adão. Os longos séculos
Da humana vigília cumularam-na
E antigo pranto. Olha-a. É o teu espelho.

  1. Sapatos, de Charles Bukowski

(Tradução de Tradução: Alice Dias)
quando você é jovem
um par
de sapatos
saltos altos
femininos
apenas
sentados
bem
perto
ao teu lado
sozinhos
podem
incendiar
seus
ossos;
quando você é velho
eles são
somente
um par
de sapatos
vazios
e
é
isso.

  1. À estrela vésper, de William Blake (Tradução: Ivo Barroso)

Louro anjo vespertino, agora enquanto o sol
Repousa na montanha, acende o teu brilhante
Facho de amor; na fronte, a lúcida coroa
Cinge, e sorri à nossa alcova adormecida.
Sorri ao nosso amor! e enquanto descerrares
O cortinado azul do céu, derrama o argênteo
Orvalho em cada flor, cujos olhos se fecham
Ao sono. Faze o vento adormecer no lago.
Pede silêncio com teus olhos bruxuleantes
E lava a escuridão com tua prata. Em breve,
Em breve partirás: feroz já uiva o lobo
No descampado e ronda o leão na mata escura.
O velo do rebanho está coberto com
Teu santo rorejar: protege-o com teu fluxo.

  1. Vaidade, de Florbela Espanca

Sonho que sou a Poetisa eleita,
Aquela que diz tudo e tudo sabe,
Que tem a inspiração pura e perfeita,
Que reúne num verso a imensidade!
Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher todo o mundo! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade!
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!
Sonho que sou Alguém cá neste mundo …
Aquela de saber vasto e profundo,
Aos pés de quem a Terra anda curvada!
E quando mais no céu eu vou sonhando,
E quando mais no alto ando voando,
Acordo do meu sonho … E não sou nada! …

  1. No Meio do Caminho, de Carlos Drummond de Andrade

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho.

  1. A estrada, de Ariano Suassuna
[Com mote de augusto dos anjos]
No relógio do Céu, o Sol ponteiro
Sangra a Cabra no estranho céu chumboso.
A Pedra lasca o Mundo impiedoso,
A chama da Espingarda fere o Aceiro.
No carrascal do sol, azul braseiro,
Refulge o Girassol rubro e fogoso.
Como morrer na sombra do meu Pouso?
Como enfrentar as flechas desse Arqueiro?
Lá fora, o incêndio: o roxo lampadário
das Macambiras rubras e auri-pardos
Anjos-diabos e Tronos-vai queimando.
Sopra o vento – o Sertão incendiário!
Andam monstros sombrios pela Estrada
e, pela Estrada, entre esses Monstros, ando!

  1. Considerações de Aninha, de Cora Coralina

Melhor do que a criatura,
fez o criador a criação.
A criatura é limitada.
O tempo, o espaço,
normas e costumes.
Erros e acertos.
A criação é ilimitada.
Excede o tempo e o meio.
Projeta-se no Cosmos.

  1. Lobos? São muitos, de Hilda Hilst

Lobos? São muitos.
Mas tu podes ainda
A palavra na língua
Aquietá-los.
Mortos? O mundo.
Mas podes acordá-lo
Sortilégio de vida
Na palavra escrita.
Lúcidos? São poucos.
Mas se farão milhares
Se à lucidez dos poucos
Te juntares.
Raros? Teus preclaros amigos.
E tu mesmo, raro.
Se nas coisas que digo
Acreditares.

  1. Nome, de Arnaldo Antunes

algo é o nome do homem
coisa é o nome do homem
homem é o nome do cara
isso é o nome da coisa
cara é o nome do rosto
fome é o nome do moço
homem é o nome do troço
osso é o nome do fóssil
corpo é o nome do morto
homem é o nome do outro

  1. Poema XLIV, de Pablo Neruda (Tradução: Carlos Nejar)

Saberás que não te amo e que te amo
posto que de dois modos é a vida,
a palavra é uma asa do silêncio,
o fogo tem uma metade de frio.
Eu te amo para começar a amar-te,
para recomeçar o infinito
e para não deixar de amar-te nunca:
por isso não te amo todavia.
Te amo e não te amo como se tivesse
em minhas mãos as chaves da fortuna
e um incerto destino desditoso.
Meu amor tem duas vias para amar-te.
Por isso te amo quando não te amo
e por isso te amo quando te amo.

  1. Pronominais, de Oswald de Andrade

Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
e dá um cigarro

  1. Não discuto, de Paulo Leminski

não discuto
com o destino
o que pintar
eu assino

17. Poema de Natal, de Vinicius de Moraes

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos…
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.

  1. beba coca-cola, de Décio Pignatari (poesia concreta)
  1. Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões

Canto I
As armas e os barões assinalados,
Que da ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca de antes navegados,
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;
E também as memórias gloriosas
Daqueles Reis, que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando;
E aqueles, que por obras valerosas
Se vão da lei da morte libertando;
Cantando espalharei por toda parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.
(…)

  1. À cidade da Bahia, de Gregório de Matos

Triste Bahia! ó quão dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vi eu já, tu a mi abundante.
A ti trocou-te a máquina mercante,
Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando, e tem trocado,
Tanto negócio e tanto negociante.
Deste em dar tanto açúcar excelente
Pelas drogas inúteis, que abelhuda
Simples aceitas do sagaz Brichote.
Oh se quisera Deus, que de repente
Um dia amanheceras tão sisuda
Que fora de algodão o teu capote!

  1. Não me inquieto, de Fabrício Carpinejar

Não me inquieto
quando não recebo as respostas
das perguntas que não fiz.
Eu me conformei
em reservar alguma coisa
de ti para saber depois.
Um pouco de nosso amor
será póstumo.
É recomendável
não descobrir todos os segredos.

  1. Autopsicografia, de Fernando Pessoa

O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

  1. Ode ao burguês, de Mário de Andrade

Eu insulto o burguês! O burguês-níquel,
o burguês-burguês!
A digestão bem-feita de São Paulo!
O homem-curva! O homem-nádegas!
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!
(…)

  1. Recordar é preciso, de Conceição Evaristo

O mar vagueia onduloso sob os meus pensamentos
A memória bravia lança o leme:
Recordar é preciso.
O movimento vaivém nas águas-lembranças
dos meus marejados olhos transborda-me a vida,
salgando-me o rosto e o gosto.
Sou eternamente náufraga,
mas os fundos oceanos não me amedrontam
e nem me imobilizam.
Uma paixão profunda é a bóia que me emerge.
Sei que o mistério subsiste além das águas.

  1. Baile no sereno, de Ruth Rocha

Cantador canta tristeza,
canta alegria também.
É de sua natureza
cantar o mal e o bem.
Pois ele tem dentro dele
o canto que o canto tem…
Por isso, se o mar secar,
se cobra comprar sapato,
se cachorro virar gato,
se o mudo puder falar,
Se a chuva chover pra cima,
se barata for grã-fina,
Quando o embaixador for em cima,
Cantador vai se calar.

Recursos poéticos

As figuras de linguagem, também chamadas de estilo, são formas não convencionais de usar as palavras para torná-las mais belas, expressivas, com mais força e cor.

  • Metáfora. É a identificação de um objeto real com um objeto imaginário, com o qual ele mantém uma relação de similaridade. Por exemplo: Este lugar é um paraíso.
  • Comparação ou símile. Relação explícita de similaridade entre dois elementos. Por exemplo: Ficou como uma fera.
  • Hipérbole. Exagero com o objetivo de intensificar, degradar ou ampliar. Por exemplo: Esperei mil horas por você.
  • Personificação. Atribuição de qualidades humanas a seres ou animais inanimados. Por exemplo: O tempo é um tirano.
  • Aliteração. Repetição de fonemas vocálicos ou consonânticos em palavras próximas. Por exemplo: Minha mãe me mima.
  • Anáfora. Repetição de uma ou mais palavras no início de dois ou mais versos ou enunciados consecutivos. Por exemplo: “Tinha uma pedra/Tinha uma pedra no meio do caminho”.
  • Sinestesia. Atribuição de sensações físicas a sentimentos, ou a conceitos aos quais tal atribuição não corresponderia. Por exemplo: A melodia doce, mas às vezes triste, soou durante toda a cena.
  • Metonímia. Designação de uma palavra por outra, seja um objeto ou uma ideia com o nome de outro por estarem ligadas por uma relação de efeito x causa, autor x obra, parte x todo, marca x produto, etc. Por exemplo: Este ano, leremos Camões.
  • Hipérbato ou Inversão. Alteração da ordem lógica dos elementos de uma frase. Por exemplo: Do meu gato cuido eu.

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Killmann, Márcia. Poesia. Enciclopédia de Exemplos, 2023. Disponível em: https://www.ejemplos.co/br/poesia/. Acesso em: 26 de novembro de 2024.

Sobre o autor

Autor: Márcia Killmann

Licenciatura em letras (UNISINOS, Brasil), Doutorado em Letras (Universidad Nacional del Sur).

Revisado por: Cristina Zambra

Licenciada em Letras: Português e Literaturas da Língua Portuguesa (UNIJUÍ).

Data de publicação: 29 de junho de 2023
Última edição: 16 de julho de 2024

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