Uma resenha é um texto relativamente breve no qual se examina um evento, objeto, investigação ou obra artística, a fim de oferecer uma avaliação ou interpretação crítica do texto resenhado. As resenhas podem abordar diversos assuntos. Por exemplo: um livro, um videogame, um filme, uma exposição de arte, um disco, uma peça de teatro, uma pesquisa científica, um automóvel, um eletrodoméstico, entre muitos outros.
Normalmente, as resenhas são escritas com base em parâmetros profissionais, e não em opiniões subjetivas ou infundadas. Por isso, costumam ser escritas por entendidos na matéria que resenham, que se expõem sobre os elementos mais destacados do que examinam, junto com suas virtudes e defeitos, com o objetivo de que o público o conheça e possa ter uma primeira aproximação ao seu conteúdo. Por exemplo: a resenha de uma série de televisão.
Para considerar: As resenhas apresentam características dos textos expositivos, por isso oferecem ao leitor informação detalhada sobre um assunto específico, e dos textos argumentativos, uma vez que fazem uma crítica argumentativa à qualidade da obra a ser descrita.
- Veja também: Argumentação
Tipos de resenhas
- Resenhas críticas. Costumam examinar e avaliar criticamente um objeto, evento ou qualquer obra artística. O escritor faz uma interpretação, apresentando um juízo de valor sobre um conteúdo específico. Além disso, também há a utilização de argumentos sólidos a partir de outras fontes de pesquisa. Trata-se de textos de divulgação que podem ser escritos por um profissional, mas também por um utilizador ou um consumidor amador, e podem conter certas avaliações baseadas nos gostos pessoais do autor. Geralmente, procuram persuadir o público a consumir ou não determinado produto ou atividade cultural. São publicados em meios de comunicação de massa, tanto digitais como impressos, e também podem ser lidos em rádio ou televisão.
- Resenhas científicas. Costumam analisar uma pesquisa ou texto científico e avaliar a sua relevância no campo a que pertence. Trata-se de textos técnicos que necessariamente devem ser redigidos por especialistas, uma vez que avaliam o trabalho dos colegas. Sustentam um critério sobre argumentos verificáveis e aspiram à objetividade. São frequentemente publicados em revistas acadêmicas e especializadas, e dirigem-se a um público entendido na matéria.
- Resenhas descritivas. Costumam se assemelhar ao resumo. Isso se dá porque ela não apresenta nenhum juízo de valor ou interpretação crítica do texto analisado. Contudo, esse texto apresenta as características estruturais do texto, os pontos que mais se destacam e a indicação do público-alvo. Sendo assim, ela é utilizada para apresentar os textos ao público, já que não julgamos a qualidade da informação e há apenas a descrição do texto-fonte.
Partes de uma resenha
As resenhas são compostas geralmente pelas seguintes partes:
- Título. É uma frase curta que transmite o assunto e que menciona o nome ou título do que será mencionado.
- Informação sobre o texto resenhado. É a ficha técnica com as características principais do produto resenhado. Em caso de resenha de um livro, trata-se de uma ficha bibliográfica que contém o título do livro, o autor, o país de publicação, a editora, o ano de edição e a quantidade de páginas. A localização destes dados pode variar conforme o autor e o meio onde a resenha é publicada.
- Síntese comentada do texto. É o corpo da resenha, onde se contextualiza a obra, descrevem-se suas características ou pontos principais, sua estrutura, os objetivos que quer alcançar e se consegue ou não, entre outras coisas. Trata-se de uma análise crítica do conteúdo do texto ou do produto resenhado.
- Avaliação do autor. É a opinião argumentativa do autor a respeito do produto resenhado, onde expõe os seus pontos fortes e fracos. Geralmente, é um juízo de valor que busca influenciar os leitores para que consumam ou não certo produto, ou realizem determinada atividade cultural.
- Conclusão. É o fechamento do texto, onde se sintetiza a ideia geral e se retomam os pontos importantes. Muitas vezes inclui também a recomendação ou não do produto resenhado em questão.
Exemplos de resenhas
- “Onde a vida nos leva, de José Salem”, por Elvio E. Gandolfo (La Nación, 24 de julho de 2021).
Os dados da produção literária de José Salem são variados e anônimos: “Escreveu romances, relatos e poesia em espanhol e em francês”, diz a contracapa. Acrescenta que nasceu em Buenos Aires, em 1959, que estudou língua espanhola e civilização francesa na Sorbonne e história da arte no Museu Nacional de Belas Artes. E que vive em Buenos Aires e em Paris.
Os treze relatos de “Onde a vida nos leva” estão divididos, por cores, em três partes. O primeiro (“Azul”) é “Um nó na garganta”. Em um dia incômodo, irritante (céu nublado, garoa) o muito formal João vai até a rua Callao esquina Quintana, e espera em um bar. Quando entra seu irmão Ángel, menor e casual, jovial, falam e discutem. Elementos como uma mulher ou uns pais acidentados acrescentam tensão. Mas o estilo é econômico, com o uso de itálico para o passado. O leitor inevitavelmente se pergunta se será o tom do livro em geral.
Mas, as mudanças de cor (“Vermelho Ocre”) variam os temas, o estilo, as estruturas. O autor procura, e encontra. Em ambientes distintos, os personagens se cruzam, sentem-se intrigados, ou são arrastados por um impulso que os tira do cotidiano e os deposita em lugares novos, desconhecidos. Uma inquietude corrosiva, às vezes ensurdecedora, os tira do automatismo. O melhor exemplo é “Aplausos”, onde se expõe com humor e lucidez a trajetória múltipla e vigorosa de um chanta (em português, charlatão) argentino, dedicado a desarticular um grupo de personagens do povo, aproveitando suas debilidades.
“Onde a vida nos leva”, de José Salem
Paradiso, 165 páginas
$ 5.000,00
- “Titanic” (seleção), por José María Aresté (Aceprensa, 7 de janeiro de 1998).
Um caçador de tesouros começa a exploração submarina dos restos do mítico Titanic. A descoberta do desenho de uma jovem, milagrosamente conservado, leva à Rose, uma idosa que afirma ser a retratada. Começa assim a evocação de um amor de juventude nunca compartilhado com ninguém, que teve como marco o famoso navio que em 1912 levou consigo ao fundo do mar 1500 pessoas. [… ]
Cameron se concentrou na estrutura do roteiro. A desculpa de saber o que aconteceu com um valioso medalhão que viajava a bordo do Titanic, ajuda-o a elaborar a sua história, contornando o obstáculo de que o destino do navio já seja conhecido. […] Além disso, ao contrário de outros filmes sobre catástrofes, coloca-se a ênfase no componente intimista da história de amor de Rose — uma jovem rica comprometida com Cal, um homem que não ama e Jack, jovem artista de vida boêmia, com os bolsos vazios e uma passagem para o Titanic ganho em um jogo de pôquer —, que progride com ritmo adequado. Talvez o que mais falha, ao mostrar esse amor, são as reações um pouco caricaturais do pretendente desprezado e seu malvado mordomo. […]
O tratamento dos passageiros no seu salvamento fala por si só das desigualdades sociais, tão marcadas naqueles anos, aspecto também presente na brilhante cena do banquete. Há outras questões, mais como pano de fundo que em primeiro plano: a solidariedade, a fé que leva a se preparar para morrer, os efeitos do pânico ou a tola vaidade humana — um personagem recorda a infeliz frase: “Este barco não o afunda nem Deus”— que substituiu por um navio a Torre de Babel.
O filme é um marco do cinema monumental. James Cameron, um diretor de força visual transbordante, oferece planos inesquecíveis […]. As sequências do choque do Titanic com o iceberg e do consequente afundamento são de realismo inusitado, verdadeiro prodígio dos efeitos especiais. E a imagem do mar como sinistra tumba flutuante, com o azul, marca de fábrica do diretor, deixa no espectador uma marca indelével.
- “Spencer: Lady Di, aquela princesa perdida e sozinha” (seleção), por Carlos Boyero (El País, 18 de novembro de 2021).
O diretor chileno Pablo Larraín, tão aficionado a retratar personagens no limite convivendo em espaços fechados […], retorna em Spencer ao provável ou inventado último Natal que passou encerrada em uma jaula de ouro uma senhora conhecida como a princesa de Gales, e para o povo com o diminutivo Lady Di. Fala do desespero e da compreensível neurose que a invade. Também dos seus distúrbios alimentares e psíquicos e dos seus problemas com o sufocante mundo familiar que a rodeia e ao qual já é impossível se adaptar, com passar esses dias em que tudo obedece a um ritual de pompa e circunstâncias fugindo da família real e de si mesma, vagando como um fantasma acelerado por essa opulenta mansão, recordando sua feliz infância em uma fazenda próxima da qual só ficam as ruínas, tentando manter as sagradas formas ante um matrimônio quebrado e a silenciosa reprovação da família de seu marido, sabendo que a sua última oportunidade de se sentir livre é pegar os seus filhos e fugir de lá, ainda que temporariamente.
Larraín plasma tudo isto com uma câmara inquietante, que nos contagia com a permanente crise dessa mulher que se sente tão só (seu único refúgio o constitui uma mulher da servidão que além de compreendê-la e tentar acalmá-la, está apaixonada por ela), que faz com que o espectador se sinta tão oprimido como essa infeliz princesa.
O que acho que não está bem é a comparação repetida que fazem entre a tragédia que sofreu na corte Diana de Gales e sua longínqua antecessora Ana Bolena, à qual o rei Henrique VIII condenou à morte para poder se casar com outra mulher. Quanto à família de Sua Majestade, ao contrário de The Crown, todos saem perdendo, são o que realmente parecem. […]
Spencer, sem ser excepcional, mantém um tom insalubre e crível, cria desassossego no receptor, é difícil que você se desinteresse em momento algum desta pessoa tão perdida, de sua desolação acelerada. É mérito do diretor, mas também da formidável atriz que encarna Diana. É Kristen Stewart. Possui ímã. E mistério.
Spencer
Direção: Pablo Larraín.
Intérpretes: Kristen Stewart, Timothy Spall, Sean Harris, Sally Hawkins, Jack Farthing.
Gênero: biografia. Reino Unido, 2021.
Duração: 117 minutos.
Estreia: 19 de novembro.
- Medusa, por Rafaela Medolago (Contextualize UEMG, 19 de novembro de 2020)
A peça de teatro Medusa apresenta um monólogo realizado pelo ator Caco Ciocler no #EmCasaComSesc transmitida em formato adaptado através do youtube no dia 29 de julho de 2020. O texto é de Jô Bilac e a direção de Monique Gardenberg.
Caco Ciocler é ator e diretor. Atuou em diversos espetáculos, dentre eles Os sete afluentes do rio Ota e Constelações. Como diretor, estreou em 2020 o documentário Partida. Em Medusa a atuação de Caco é emblemática, o ator transmite ao telespectador as suas emoções de forma muito intensa. O desconforto e a agonia do personagem são vivenciadas também pelo público.
A peça demonstra muito bem a tentativa frustrada de meditar em meio ao caos do mundo, ainda mais nesse momento conturbado em que vivemos. O personagem é atormentado constantemente com a aceleração e o emaranhado de pensamentos. Por meio das reflexões faz críticas às problemáticas presentes na sociedade atualmente, como exemplo, o consumo excessivo de carne, ao falar do porco e ao consumismo, representado na peça pela “Coca Zero”. Critica também a ganância de querermos nos apropriar de tudo, de todas as informações, darmos atenção a todos os acontecimentos do mundo o tempo todo, o que é impossível e acaba por nos acelerar e nos tornar superficiais. […].
Sob o cenário de pandemia da Covid-19, o ramo da cultura, assim como todos os outros, teve que encontrar meios para se adaptar a essa nova forma de vida. Através da Internet, a interação social se fez possível nesse momento, uma vez que estamos sendo impactados pelo distanciamento social, necessário para a prevenção e controle da pandemia. […].
Nesse sentido, a estética teatral também necessita se readequar. Os espaços dentro das casas tornam-se cenários. A ambientação de Medusa se dá em um banheiro branco, com aspecto simples e a luminosidade baixa, o que transmite uma ideia de calma, tranquilidade e dessa forma, faz um contraste com o assunto da peça. O exterior é sereno, o interior, a mente, é agitada.
O nome da peça faz referência a uma das personagens da mitologia grega, Medusa, retratada como um monstro com os cabelos em formato de cobras. As cobras na cabeça de Medusa representam na peça teatral, os inúmeros pensamentos que perpassam pela mente do personagem e o deixa perturbado. Tais pensamentos o acometem o tempo todo, não há pausa e nem descanso. […].
- “M, de Eric Schierloh”, por Rodrigo Pinto (Revista Sábado, de El Mercurio, 25 de maio de 2019).
Na sua edição e tradução de Lejos de Tierra y Otros Poemas (Bajolaluna, 2008), de Herman Melville, o escritor Eric Schierloh incluiu uma extensa cronologia — cerca de cem páginas — da vida do autor de Moby Dick. Em M, assinala que essa ampla pesquisa é o material não lapidado para este romance, que começou a se cristalizar “assim que mostrou a barbatana do homem gasto”, que também é “um homem entre aspas”, “uma orelha de mar”, “uma espécie de molusco marinho”. Havia um impostor lá. É possível que Melville tenha aproveitado os seus dados como outra forma de se esconder ou se ocultar, e essa presença lateral desencadeou que Schierloh começasse nesse ponto uma elaboração impressionante em torno da vida de M. Há outro material não lapidado, para tomar as palavras do autor: Jay Leyda realizou uma tarefa ímpar, gigantesca, de peso, a de reunir no The Melville Log. A Documentary Life of Herman Melville (cuja segunda edição, de quase mil páginas, apareceu em 1969) é uma “maravilhosa pesquisa e monumental transcrição dia a dia de tudo (absolutamente tudo) quanto se sabia da vida de Melville para 1951 e, depois, para 1969”. A maneira de construir a parte medular e mais extensa do livro, sob o título de Láthe Biósas, ou seja, “Vive Oculto”, em latim, é entressacar (mas não só isso) dados, citações e fotografias dessa avalanche de materiais, retiradas de cartas, jornais, artigos jornalísticos, etc.
O encadeamento de citações, informações e diversos fragmentos, centrado no período que vai de 1863 a 1891, ou seja, desde que Melville começou a escrever poesia até a sua morte, não aponta a estabelecer a biografia, mas a reconstruir, sempre pela via de indícios, como foi aquela maneira de viver oculto, como uma pessoa com cargo importante na alfândega, com a poesia como nova maneira de olhar o mundo que desembocou, como não podia ser de outra maneira com Melville, na escrita de Clarel, o poema mais longo da poesia norte-americana. Mas M é um romance. As citações (e os dados) são os materiais que estruturam a busca de algo inabitável, que sempre escapa entre os dedos: quem foi Melville e por que esse impostor, com 19 linhas em The Melville Log, pode servir como um fino contraponto a este cidadão que trabalha nas alfândegas, que sofre terríveis desgraças familiares, que vê como as suas obras mais queridas se afundam no esquecimento. M ganhou o Prêmio 2018 na categoria de Melhor Romance do Fundo Nacional das Artes argentino.
Eric Schierloh. Eterna Cadencia, Buenos Aires, 2019. 160 páginas.
- “A expressão das fibras” (seleção), por Dainy Tapia (Arte por dia, 26 de agosto de 2021).
Fios invisíveis, a exposição individual de Evelyn Politzer na Galeria de Arte do Miami Dade College-Hialeah Campus, curada por Noor Blazekovic de Projetos Irreversíveis.
Evelyn Politzer é uma artista têxtil, oriunda do Uruguai e radicada em Miami. Trabalha fundamentalmente com fibras naturais, como lã e fios de seu país natal, curiosamente conhecido por estar povoado de mais ovelhas do que de habitantes. Prefere as fibras tingidas à mão pelas mulheres rurais do seu país. O contato dessas fibras do seu atelier faz ela se sentir conectada às suas raízes.
Nesta exposição, tivemos a oportunidade de ver uma ampla gama dos trabalhos de Evelyn. Assim que se entra e ocupando uma grande parede se encontra a instalação “Cada gota conta”. Esta instalação é composta por centenas de gotas de água tecidas à mão em diversos tons de azul e verde que pendem do teto, algumas curtas, outras longas que quase tocam o chão, e formam uma instalação que convida o espectador a mergulhar. Caminhar por este tranquilo labirinto de enormes gotas de água nos lembra a importância de conservar a água e a natureza em geral. […]
No meio da sala, abraçados a uma coluna, estão os ninhos de Evelyn. Que melhor metáfora para o lar, para um lugar seguro, que um ninho? Evelyn Politzer incorpora toda a ternura e intimidade ideal para o conceito de casa em sua série sobre ninhos. São multiformes, são feitos de lã combinada com pequenas trepadeiras. Cada um deles representa todas as qualidades que oferece um bom lar: um lugar único que abraça sem pegar, sem limitar. […]
Por último, o fio invisível mencionado no título da exposição é extremamente aparente; na verdade, é o prazer! O prazer da artista de explorar livremente a cor e as texturas e de expressar-se por meio desses materiais.
- “De Noite”, por José G. (Profes, 01 de março de 2022)
Franz Kafka foi um exímio escritor, tanto seus contos quantos suas obras mais extensas deliberam um forte saber linguístico e estrutural, passando uma narrativa precisa de forma muitas vezes metafórica ou complexa, porém, que deslumbra o leitor ao ser analisada precisamente. O conto “De Noite” expõe o ato de dormir, nos faz refletir, mistifica o sono e suas interpretações, ele começa com um imperativo, “submergir-se em a noite!”, que resume bem o que vamos fazer ao decorrer do conto,
“Assim como às vezes se enterra a cabeça no peito para refletir, fundir-se assim por completo com a noite”, essa é uma das frases mais marcantes de todo o conto, ela escancara as profundidades do que é “ser humano”, como dizia o grande escritor russo, Fiódor Dostoiévski, “existe no homem um vazio do tamanho de Deus”. Essa frase do conto retrata dessa temática, o vazio escuro e profundo que é representado pela noite e como simplesmente “às vezes” enterramos nossa cabeça no peito para refletir, esse “as vezes” acaba sendo mais recorrente do que imaginamos, e o que nos resta é debruçarmos sobre o vazio e dormir coberto pela noite serena.
É impressionante como em poucas palavras Kafka liberta nossos maiores medos e crises, e os retrata com tanta perspicácia e sutilidade por meio da literatura. A única coisa que temo é essa noite, esta noite é muito atrativa, quando paramos para analisá-la em seu conto, é poético como todos os homens se curvam perante a noite, mais uma metáfora para as crises existenciais que estão presentes em cada ser humano. Friedrich Nietzsche nos alertou que “quando você olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você”, mas mesmo assim buscamos o abismo todos os dias, sem motivo algum, da mesma forma como os homens, ou melhor dizendo os autointitulados “Vigias”, velam pelo acampamento à intempérie, que nada mais é do que uma metáfora de “Vida” e como ela está sujeita a desgraça e mesmo assim a velamos.
Dessa maneira, com a frase “Por que velas? Alguém tem que velar, disse-se. Alguém precisa estar aí” Franz Kafka finaliza seu maravilhoso conto, trazendo um questionamento metafórico, que como foi dito nessa resenha, os homens no conto, mais precisamente os vigias velavam o acampamento durante a noite, mesmo sem saber porque, eles simplesmente velavam e tentavam se conformar com isso, porém o questionamento do por que estar ali fazendo aquilo sempre retorna, da mesma forma em que na nossa vida, constantemente nos questionamos o porquê de estarmos vivos ou o porquê de estarmos seguindo o rumo que seguimos, e a resposta é sempre a mesma, não sabemos e tentamos nos conformar, pois a busca incessante do nosso verdadeiro EU continua a perturbar-nos até o fim de nossas vidas.
- O teatro depois do teatro (seleção), por María Daniela Yaccar (Página 12, 30 de março de 2020).
A experiência era tentadora: uma estreia teatral através do YouTube, como parte da ampla oferta lançada por Timbre 4 nesta quarentena que atinge todas as artes, mas fundamentalmente o teatro. O que acontece com ele quando não há corpos presentes?
Todos estes dias é possível percorrer peças liberadas no cenário virtual. UNA, com atuação de Miriam Odorico e direção do italiano Giampaolo Samá, incorpora uma variante. Não é documento de um espetáculo do passado, nem um criado especificamente para o formato que tomou. A estreia na sala foi cancelada pelo coronavírus, então os artistas, que são um casal, inicialmente quiseram transmitir ao vivo. Por problemas de conexão, preferiram não arriscar. Na manhã de sábado, Samá, fotógrafo também, filmou o pessoal em um único plano americano, na sala de estar da casa que ambos compartilham. Deixaram-no disponível durante duas horas a partir das 17 horas do mesmo dia. Ultrapassou as 1500 visualizações.
Trata-se de uma versão livre do romance Um, Nenhum e Cem Mil, de Luigi Pirandello, sobre um homem que enfrenta uma crise de identidade a partir de um comentário da sua mulher sobre o seu nariz. Vitangelo Moscarda muta aqui em Angélica, mudança que outorga uma perspectiva de gênero em tom com os tempos que hoje. Odorico — Memé na célebre A omissão da família Coleman — entrega uma interpretação requintada que ilustra a multiplicidade e a diversidade de máscaras que pode utilizar um ser humano diante os demais e inclusive diante de si mesmo. Ou que lhe são impostas. […]
O tom do texto é favorável para a forma como acidentalmente chegou aos espectadores. Ressoa um convite à introspecção mais que adequada para o isolamento. Porque Moscarda interpela, pergunta; procura cumplicidade e assinala a universalidade da sua própria crise. Ela sempre foi o que os outros queriam que fosse. A quem não aconteceu, se ninguém pode se ver de fora? Mas o que há depois da libertação? Para essa questão viaja o personagem.
- “Spheres, uma exposição em 36 formas de arte” (seleção), por Frida Juárez (El Universal, 26 de setembro de 2022).
O artista nayarita Daniel Azuara (Tepic, 1987) apresenta “Spheres”, na Galeria Oscar Román. Nesta exposição, será possível ver 36 obras de arte que têm como protagonista a figura da esfera. Os quadros são de diferentes formatos, vão desde uma folha de papel até pinturas em grande formato de 2×3 metros de armação com tecido. É uma exposição mista a partir de diversas cores, formas, texturas e materiais como grafite, carvão, acrílico, óleos, ouro, esmaltes, areia e cascalho triturado.
“A esfera representa o elemento mais perfeito que existe na natureza. Representa a mãe de tudo, o infinito, e é uma forma que engloba praticamente a vida e dentro da arquitetura representa um elemento muito limpo, elegante”, diz o artista sobre esta figura geométrica que leva 10 anos tentando aperfeiçoar. […]
No entanto, as pinturas expostas em Spheres foram feitas pelo pintor nos últimos dois anos. “A pandemia foi um momento crucial na elaboração desta coleção porque desenvolvi muitas ideias e experimentação de outras formas. São muitas experiências que me inspiraram para a elaboração de cada uma das peças”, afirma.
“Dança sob o eclipse”, “Captura Luas Azuis” são alguns dos títulos que levam suas obras. A arte de Azuara faz referência a corpos celestes e seus fenômenos porque através da figura da esfera representa “um romantismo com as luas e com alguns planetas de nosso universo”, diz Azuara, que trabalha novas pinturas para complementar a série; planeja amostra a Monterrey e San Luis Potosí.
Spheres estará aberta até 30 de setembro.
- The Car, a nova saga dos Arctic Monkeys (seleção), por Morgendorffer (Indie Rocks! 26 de outubro de 2022).
A banda originária de Sheffield, Arctic Monkeys, apresenta seu sétimo álbum de estúdio, The Car, através do selo Domino. Passaram-se quatro anos do lançamento do Tranquility Base Hotel & Casino, material que dividiu opiniões entre os fãs e que representou uma mudança formal, outro, no som do grupo.
Nesta ocasião, continua-se sobre essa mesma linha, já que a primeira música There’d Better Be A Mirrorball funciona como ponte ao disco anterior, e como base do que escutaremos nas seguintes músicas. Também serve como aviso, porque, como sabemos, sob esta não há engano.
Para aqueles que decidirem continuar há recompensas, a principal, uma banda muito mais confortável nesta nova era; por exemplo, em I Ain’t Quite Where I Think I Am é liberado do pânico cênico. […]
Body Paint é a única estrela, onde podemos ver com mais clareza as intenções e a direção que tomou a banda neste álbum. Monumental e dramática, que funciona de maneira diferente quando se apresenta ao vivo, um novo clássico de Arctic Monkeys, que irá encontrar seu lugar nos próximos anos dentro do setlist.
Por último, destacar Perfect Sense, que dá um fechamento redondo ao material, entrega-se totalmente aos instrumentos, seguindo a analogia com o cinema, é um final abrupto, deixa muitas coisas no ar, mas não inconclusivas, como se preparasse uma sequela. O que sempre acontece com o grupo, já que realmente é possível traçar uma linha narrativa em sua discografia.
Concluindo, é um grande álbum, consequente, mas não continuísta. Mantém a essência de Arctic Monkeys, as letras crípticas de Turner e a força instrumental do conjunto, com menor intensidade, mas maior precisão; é óbvio que Alex é o motor criativo, mas Cook, Helders e O’Malley marcam a direção.
Como escrever uma resenha
Para escrever uma resenha, pode ser útil considerar algumas dicas:
- Escolher um título atrativo para a resenha, de modo a gerar um impacto no leitor.
- Observar, descrever e analisar, criticamente e em profundidade, o objeto ou o texto a resenhar.
- Investigar sobre o tema e o autor da obra, ou sobre o responsável do objeto resenhado.
- Anotar em um rascunho os aspectos mais relevantes da obra ou do produto para incorporar na resenha.
- Estabelecer relações entre obras do mesmo estilo ou produtos da mesma natureza.
- Responder algumas perguntas básicas, que poderão variar em função do elemento que se resenha: como se compõe ou estrutura a obra ou produto? Está bem construído? Qual objetivo persegue e como faz? Alcança o objetivo proposto? É recomendável?
- Expor de maneira argumentativa o ponto de vista que se sustenta sobre o resenhado.
- Ser claro, preciso e concreto na escrita.
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